Gruta na Arrábida mostra que os neandertais também eram pescadores. Além de alimentos de origem terrestre, os neandertais comiam peixes ósseos, tubarões, golfinhos, focas, tartarugas, imensos moluscos, e caranguejos conforme os registos da Gruta da Figueira Brava, na Arrábida, que datam de 86 a 106 mil anos atrás.
Sabia-se que os humanos neandertais eram exímios caçadores e comiam carne, mas este novo estudo em Portugal publicado na Science revela evidências de que os neandertais do Paleolítico Médio exploravam os recursos marinhos em escala semelhante à moderna Idade Média da Pedra associada à humanidade da África Austral.
O artigo “Last Interglacial Iberian Neandertals as fisher-hunter-gatherers” é assinado pelo famoso arqueólogo João Zilhão e seguido por D. E. Angelucci, M. Araújo Igreja, L. J. Arnold, E. Badal, Pedro Callapez, João Luis Cardoso, F. d’Errico, J. Daura, M. Demuro, M. Deschamps, C. Dupont, S. Gabriel, D. L. Hoffmann, Paulo Legoinha, H. Matias, A. M. Monge Soares, M. Nabais, P. Portela, A. Queffelec, F. Rodrigues, P. Souto. Vale a pena ler o artigo ver o material complementar de 171 páginas.
A familiaridade com o mar e seus recursos pode ter sido generalizada para os residentes no Paleolítico Médio. Essas descobertas acrescentam dimensões mais amplas à nossa compreensão do papel dos recursos aquáticos na subsistência dos seres humanos paleolíticos.
Gruta da Figueira Brava, na Arrábida (foto em Zilhão et al., 2020). |
A margem atlântica da Europa possui águas costeiras ricas em recursos. Da Escandinávia à França, no entanto, qualquer evidência para a última exploração interglacial de recursos marinhos teria sido perdida pelos subsequentes avanços da calota de gelo e pela submersão pós-glacial da ampla plataforma continental. Por outro lado, a plataforma muito íngreme da Arrábida, uma cadeia montanhosa do litoral 30 km ao sul de Lisboa, Portugal, permitiu que linhas costeiras existentes e submersas fossem preservadas a distâncias curtas. A Gruta da Figueira Brava, um dos locais de cavernas costeiras protegidas contra a erosão da Arrábida, oferece uma oportunidade singular para investigar se alguma acumulação considerável de restos de alimentos marinhos na Última Interglacial já existiu na Europa.
Figueira Brava fornece o primeiro registro de consumo significativo de recursos marinhos entre os neandertais da Europa. Os vieses tafonómicos e de preservação do local explicam por que esse tipo de registro não foi encontrado anteriormente na Europa na escala observada entre as populações africanas. Consistentes com evidências rapidamente acumuladas de que os neandertais possuíam uma cultura material totalmente simbólica, as evidências de subsistência relatadas aqui questionam ainda mais a lacuna comportamental que se pensava separá-los dos humanos modernos.
Veja nas notícias:
https://www.altmetric.com/details/78403527/news
https://science.sciencemag.org/content/367/6485/eaaz7943
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