sexta-feira, janeiro 17, 2020

Casca de ovo misteriosa pertence a dinossauro da família do "vilão" Velociraptor


Investigador da Universidade Nova de Lisboa e Museu da Lourinhã, Miguel Moreno-Azanza, fez novas novas descobertas de ovos de dinossauros.

Referência:
Choi, S., Moreno‐Azanza, M., Csiki‐Sava, Z., Prondvai, E. and Lee, Y.‐N. (2020), Comparative crystallography suggests maniraptoran theropod affinities for latest Cretaceous European ‘geckoid’ eggshell. Pap Palaeontol. doi:10.1002/spp2.1294 https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/spp2.1294

Replicamos aqui a notícia de 16 de Janeiro de 2020, no Observador.

Casca de ovo misteriosa pertence a dinossauro da família do "vilão" Velociraptor

Mais um quebra-cabeças resolvido na paleontologia. Casca de ovo com pelo menos 66 milhões de anos é de dinossauro da família do Velociraptor, vilão em Parque Jurássico. Português ajudou na descoberta.


Nos anos 90, uma equipa de paleontólogos explorou na Europa um estranho fóssil da casca de ovo que pertencia a algum animal que tinha vivido na Terra há entre 66 milhões e 85 milhões de anos. Chamaram-lhe Pseudogeckoolithus, mas ninguém sabia que animal era esse. Algumas características pareciam ser de um antepassado das osgas modernas, mas outras eram mais próximas dos dinossauros predadores. Trinta anos depois, o mistério foi deslindado com a ajuda de um português.

Através de uma nova técnica que permite saber como é que as moléculas e os átomos se organizam dentro de um fóssil, os cientistas descobriram que aquela casca de ovo era de um dinossauro da família do Velociraptor, que talvez conheça por ser o principal vilão do filme Parque Jurássico. Por fora, o ovo até podia parecer de uma osga. Mas era completamente diferente a nível microscópico e estava muito mais próximo das características químicas dos ovos de dinossauro.

A casca destes ovos era muito fina — não ultrapassava os 0,3 milímetros de espessura — tinha canais respiratórios e pequenos botões e nós à superfície. Os ovos de Pseudogeckoolithus eram do mesmo tamanho que os ovos de um corvo, com três a quatro centímetro de diâmetro, mas a mãe devia ter o tamanho de uma galinha.

Tal como o faisão, por exemplo, um tipo de megapode que constrói montes de terra e vegetação para receber as novas crias, também este dinossauro enterrava os ovos nesse tipo de ninhos para os aquecer com a energia libertada durante a fermentação da matéria orgânica. Apesar do aspeto dos ovos ser semelhante ao das osgas atuais, a estrutura cristalina deles prova que eram postos por dinossauros.

Isso mesmo é explicado por Miguel Morena-Azanza, cientista da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e paleontólogo do Museu da Lourinhã que esteve envolvido nesta descoberta. “A identidade enganosa de Pseudogeckoolithus já foi abordada por Nieves López-Martínez e Monique Vianey, que a nomearam nos anos 90. Eles classificaram essa casca de ovo como dinossauro, mas chamaram-na de ‘casca de ovo de pedra parecido com uma osga’, que é o que Pseudogeckoolithus representa. Agora essas novas técnicas permitiram-nos confirmar firmamente a sua observação inicial”, conta.

Isto é importante porque permite saber mais sobre o passado da vida da Terra e sobre como ela evoluiu até aos dias de hoje. Como foram encontrados muitos fósseis de Pseudogeckoolithus no sul da Europa e no norte de África, se estes ovos fossem de osgas isso significaria que, no final do tempo dos dinossauros, já havia nestas regiões lagartos semelhantes às osgas modernas.

Com esta descoberta, essa teoria cai por terra. E outra emerge: afinal, no final do Cretácio, havia muitos pequenos dinossauros predadores e semelhantes a pássaros em toda a Europa. Essa já era uma desconfiança dos paleontólogos, mas não havia certas porque os fósseis desses animais são muito raros. Estas cascas de ovo, no entanto, lançam luz sobre o passado da vida que se desenvolvia no solo que agora pisamos.

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