Os concelhos de Loulé, Silves e Albufeira estão a preparar candidatura a GeoParque Mundial da UNESCO com base nas descobertas paleontológicas no Triásico. Dia 7 de Dezembro (próximo sábado) vai haver a conferência Geoparque Algarvensis Desafios e Oportunidades, em Loulé sobre este assunto.
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Geoparque Algarvensis, o nome que quer «andar na boca de toda a gente»
Por Pedro Lemos • 3 de Dezembro de 2019 - 14:30
Candidatura a Geoparque Mundial da UNESCO deverá acontecer em 2021 ou 2022
A descoberta até tem 227 milhões de anos, mas este é um projeto de futuro. O Metoposaurus Algarvensis, cujos fósseis foram encontrados na Jazida da Penina, é o ponto de partida para o projeto aspirante a Geoparque Mundial da UNESCO que junta Loulé, Silves, Albufeira e a Universidade do Algarve. As três autarquias e a academia assinaram esta segunda-feira, 2 de Dezembro, protocolos de colaboração para uma iniciativa que tem como grande objetivo contrariar o declínio do interior da região, envolvendo as pessoas.
O Salão Nobre dos Paços do Concelho de Loulé acolheu este momento que mais não foi do que a efetivação de dois anos de trabalho, em conjunto.
Dois anos que apenas marcaram o ponto de partida, mas que já foram «essenciais» para começar a preparar a candidatura à UNESCO que deverá ser feita em 2021 ou 2022.
É que este é um projeto bastante ambicioso. A ideia passa por juntar conhecimentos geológicos, históricos ou arqueológicos, tudo numa perspetiva holística, para desenvolver o território do interior dos concelhos de Loulé, Albufeira e Silves.
Promover o desenvolvimento sustentável do território a partir das comunidades e da sua qualidade e modo de vida, assim como da riqueza geológica, tornando a área dos três concelhos num destino sustentável e potencialmente turístico de interesse mundial, através do seu património geológico, é o principal objetivo desta candidatura.
Cristina Veiga Pires, a coordenadora científica do Geoparque Algarvensis, explicou que a zona delimitada (que incorpora localidades como Paderne, Silves, Messines, Loulé ou Querença) tem «inúmeros geossítios já identificados», como a Jazida da Penina, onde foi encontrado o Metoposaurus Algarvensis, a Mina de Sal-Gema, em Loulé, o Grés de Silves ou os calcários no Escarpão, em Albufeira.
«Já temos uma lista de mais de 25 geossítios a serem documentados. Isto é muito longo, claro, temos de ir ao sítio, ver as acessibilidades. No futuro, haverá uma musealização a ser desenvolvida e daí a necessidade de um tempo largo para preparar tudo. Agora, temos de fazer esta listagem e homogeneizar a informação», disse aos jornalistas.
Será também a partir desses geossítios que se desenvolverá todo o projeto, no qual os percursos pedestres terão um papel importante.
«Os três municípios têm coisas feitas, no património, na cultura, nos percursos pedestres. Se os há, é porque passam em sítios bonitos e se os sítios são bonitos é porque há geologia envolvida», ilustrou.
No fundo, a grande ideia é dar a conhecer o património riquíssimo que há no interior do Algarve e que muitas vezes é esquecido. Com isso, atraem-se pessoas e promove-se a própria economia, como referiu Vítor Aleixo, presidente da Câmara de Loulé.
Lembrando o papel fulcral de Octávio Mateus, professor da Universidade de Lisboa que o desafiou a criar este Geoparque, o autarca disse que «rapidamente se apercebeu da oportunidade única que não podia deixar de agarrar».
«Entendi logo que tinha a oportunidade de levar para o interior do Algarve um projeto no qual acredito, que ajudará a contrariar o seu clima de declínio demográfico, económico e até natural», considerou.
Para Vítor Aleixo, este é um projeto «para gerações», com uma «forte matriz identitária» e onde os presidentes das Juntas de Freguesia são «uma peça chave para mobilizar e levar a iniciativa às pessoas».
De resto, os habitantes destes territórios são, no entender do autarca, o «mais importante» de todo o projeto.
«As pessoas vão ser absolutamente determinantes. O Geoparque é um projeto que só será bem sucedido se envolver as pessoas e tem de ser de baixo para cima. É preciso que todos vivam isto, que entendam o que está a acontecer», disse, sem rodeios.
Rosa Palma, presidente da Câmara de Silves, defendeu precisamente a mesma ideia.
«Queremos que o património que já lá está ganhe vida, mas, para que isso aconteça, tem de haver pessoas e essas também tem uma história para contar. Por isso, acho importante que não se percam os costumes e tradições e este é um projeto que engloba todos esses saberes», considerou.
A autarca deixou dois desejos bem vincados. «Queremos que as pessoas falem e que esta palavra Algarvensis ande na boca de toda a gente. E mais: queremos que as pessoas sejam contagiadas e reconheçam o seu território – que tenham o sentimento de pertença».
José Carlos Rolo, presidente da Câmara de Albufeira, considerou, por sua vez, que o Geoparque pode ser, para o seu concelho, uma «alternativa ao turismo de massas».
«Temos de caminhar para aí, para que haja a tal complementaridade ao sol e praia. Já se sabe como funciona a questão da sazonalidade e a formação do Geoparque, com o selo da UNESCO, poderá dar uma mais-valia ao tecido turístico de Albufeira», defendeu.
E com o desenvolvimento do turismo no interior, é a própria economia que floresce e é estimulada. Paulo Águas, reitor da Universidade do Algarve (UAlg), disse, neste sentido, que o projeto do Geoparque «olha para o território numa ótica de preservação e será assim que teremos capacidade para melhorar as condições de vida».
E para o futuro?
Para o próximo ano, está prevista a criação de uma Associação Aspirante Geoparque Algarvensis que junte todas estas entidades. Em paralelo, haverá ações no território, com a população, para dar a conhecer este projeto.
A primeira delas é já este sábado, 7 de Dezembro, a partir das 15h00, na Escola Secundária de Loulé, que irá receber uma conferência com os intervenientes neste projeto, bem como de especialistas nesta matéria – Octávio Mateus, da Universidade Nova de Lisboa e investigador que liderou equipa internacional que escavou a jazida da Penina, onde se descobriu o Metoposaurus Algarvensis, e Artur Sá, da Universidade do Minho.
Ambos irão falar sobre os desafios e oportunidades da candidatura que reúne os três municípios algarvios.
Já às 17h15, será inaugurada a exposição itinerante “Vamos ser Geoparque Algarvensis: O que é isso? – Um território aspirante a Geoparque Mundial da UNESCO”, realizada no âmbito da candidatura do município de Loulé ao Fundo Ambiental “Educação Ambiental + Sustentável | EducarTe: Educar para o Território”.
O Geoparque Algarvensis já tem um website disponível aqui.
Fotos: Pedro Lemos|Sul Informação
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