Os peixes pulmonados, ou dipnóicos, são um grupo peculiar de peixes que existiu antes mesmo dos dinossauros e existem seis espécies vivas hoje. “Esse grupo é particularmente interessante porque eles têm pulmões e brânquias, o que ajuda a entender nossa própria evolução dos animais de pernas. Eles pertencem a um grupo mais amplo de peixes que evoluíram com barbatanas semelhantes a membros, que são ancestrais de todos os vertebrados terrestres, incluindo anfíbios, répteis, mamíferos e aves”, afirma Octávio Mateus, da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e do Museu da Lourinhã.
|
Durante as expedições de 2012 e 2016 em Jameson Land, no leste da Gronelândia, from recolhidas algumas fósseis destes peixes, que em vez de numerosos dentes, tinham placas dentárias, que é a parte mais facilmente encontrada no registro fóssil e foi o elemento que permitiu a identificação da espécie. De acordo com Federico Agnolin, do Museu Argentino de Ciências Naturais, “esta espécie distingue-se das demais por robustas placas dentárias com sulcos e diferentes formas de todos os outros peixes pulmonados”.
As placas dentárias são agora reconhecidas como sendo uma nova espécie chamada Ceratodus tunuensis, com o nome alusivo ao leste da Gronelândia. O nome específico tunensis significa "Tunu", palavra inuit para a Gronelândia oriental. "Esta foi a nossa forma de honrar a Gronelândia e a cultura Inuit", disse Lars Clemmensen, da Universidade de Copenhaga. “Quando escolhemos o nome da espécie, inicialmente consideramos usar o nome da povoação mais próxima cujo nome Inuit é Ittoqqortoormiit, mas no final optamos por usar Tunu por ser mais fácil de pronunciar” diz Jesper Milàn do Geomuseum Faxe.
A ocorrência de dipnóicos nessa formação da Gronelândia mostra que esse grupo estava perfeitamente adaptado à água doce. Naquela época, há 210 milhões de anos, essa parte da Gronelândia era 40º e 44º norte em latitude, equivalente ao norte de Portugal e à Espanha hoje.
O estudo é resultado da cooperação de sete autores, da Argentina, Portugal, Dinamarca, Alemanha e Gronelândia. O estudo tem como primeiro autor Federico Agnolin do Museu Argentino de Ciências Naturais e conta ainda com Octávio Mateus e Marco Marzola da Universidade Nova de Lisboa. A lista de autores inclui também Jesper Milàn, Oliver Wings, Jan Schulz Adolfssen e Lars B. Clemmensen. O estudo foi publicado pela prestigiada revista científica Journal of Vertebrate Paleontology.
Placas dentária de Ceratodus tunuensis do Triásico da Gronelândia (Agnolin et al., 2018) |
|
Ceratodus por Heinrich Harder (1858-1935) |
Sem comentários:
Enviar um comentário