sexta-feira, junho 27, 2008

Formação de Morrison

Este é uma das gravuras que melhor representam a fauna da Formação de Morrison. Inclui um
Apatosaurus, Saurophaganax (semelhante ao Allosaurus), Stegosaurus, Camptosaurus, Archaeopteryx e um mamífero Gobiconodon.

A pintura está no Sam Noble Oklahoma Museum of Natural History e foi realizada por Karen Carr (www.karencarr.com) que com ela ganhou o 1º Concurso Internacional de Ilustração de Dinossauros do Museu da Lourinhã.

Compare com este post.



segunda-feira, junho 23, 2008

O dinossauro carnívoro Allosaurus europaeus




O dinossauro carnívoro Allosaurus fragilis do Jurássico Superior (cerca de 150 milhões de anos) é um dos mais conhecidos na América do Norte, sendo considerado o inimigo natural do Apatosaurus, e provavelmente também de Diplodocus, Camarasaurus, Stegosaurus e Camptosaurus. Descrito inicialmente por Othniel Marsh em 1877, conhecem-se actualmente dezenas de espécimes, alguns dos quais atingem cerca de 12 metros de comprimento.
Sobretudo conhecido na Formação de Morrison, nos Estados Unidos, descobriram uns ossos na Tanzânia e em Portugal em meados e finais do século XX, respectivamente.
Contudo, um achado surpreendentemente bem conservado da Praia de Vale Frades, perto da Lourinhã, veio melhorar o conhecimento sobre este dinossauro pois compreende parte do crânio e vértebras cervicais que apresentam diferenças relativas ao Allosaurus fragilis, nomeadamente no tamanho e forma do osso jugal do crânio. Assim podemos compreender que não se trata de Allosaurus fragilis, mas de uma espécie parecida, mas distinta, à qual foi dado o nome Allosaurus europaeus.
O espécime que se encontra no Museu da Lourinhã e que recebeu o número de catálogo ML415 está tão bem conservado que até se podem ver os pequenos ossículos escleróticos que rodeavam o olho.
Allosaurus é um dos géneros de dinossauros que exista concomitantemente na América do Norte e na área que hoje é Portugal, conjuntamente com outros: Dryosaurus, Stegosaurus, Ceratosaurus, Torvosaurus e Apatosaurus. Este elenco faunístico faz-nos acreditar que, apesar do Atlântico Norte já existir durante o Jurássico Superior, os dinossauros ainda o podiam transpor.

domingo, junho 22, 2008

Clube dos desmembrados

Descobri no outro dia que não são só as serpentes os únicos indivíduos sem membros. Também existem anfíbios (e.g. o género extinto Ophiderpeton e actualmente os Sirenidae) que possuem a mesma condição, e isto surpreendeu-me. Fui investigar mais sobre o caso e fiquei a saber que ao longo da história da vida existiram diversos grupos que perderam ou reduziram à insignificância a função dos membros. Pondo isto noutros termos, a condição “não ter membros” evoluiu independentemente em diversas linhagens de vertebrados… primeiro em anfíbios lepospôndilos do Paleozóico, depois nos microssauros (na verdade não perderam por completo os membros), também em lissanfíbios (e.g. salamandras) e nos Squamata (no qual se incluem as serpentes e lagartos).

Isto levanta inevitavelmente algumas perguntas: porque será vantajoso não ter membros? De que maneira evoluiu esta forma de locomoção tão peculiar? A perda ou redução de membros nos vertebrados está geralmente relacionada com a adpatação a ambientes aquáticos ou subterrâneos… Ambas as hipóteses já foram sugeridas para explicar sob o ponto de vista ecológico a origem das serpentes. Desde alguns crocodilos (mais correctamente Crocodiliformes), e passando pelos mossassauros (répteis do mesmo grupo das serpentes). Contudo, os plesiossauros (o análogo ao monstro de Loch Ness), antes pelo contrário, aumentaram o tamanho relativo dos seus membros… É, ainda assim, espantoso animais com um percurso evolutivo tão diferente acabem por adquirir as mesmas inovações-chave no seu corpo. Existem algumas tendências, não leis, que são válidas para a perda de membros nos Squamata, se não repare-se que: (1) a redução dos membros anteriores (braços) é mais rápida que nos membros posteriores (pernas) - os cetáceos, por exemplo, não são Squamata e a tendência foi precisamente a inversa; (2) a redução dos membros é centrípta (a parte mais distal dos membros desaparece primeiro que a parte proximal, ou dito de outra forma, perde-se primeiro as mãos e depois o braço e ante-braço); (3) para a existência de um membro a cintura escapular ou pélvica tem de existir também (ou seja, os ossos da bacia e - o que corresponde nos humanos - a clavícula e omoplata têm que existir enquanto existirem braços ou pernas); (4) o diâmetro total do corpo tende a diminuir (olhe-se para as serpentes); (5) há uma tendência para o aumento do número de vértebras e repsectivo elongamento do corpo… etc. A isto chama-se evolução convergente! Todos os grupos que perderam por completo os seus membros são regidos por estas leis.

Quando começamos a olhar com atenção para, por exemplo, serpentes primitivas como a Pachyrachis isto começa a fazer mais sentido. A Pachyrachis tem por exemplo vestígios do um sacro (conjunto vértebras características da zona da bacia, intimamente ligadas à locomoção) que as serpentes mais desenvolvidas não têm… E, surpresa das surpresas, tem vestígios de membros… funcionalmente insignificantes. A Pachyrachis entre outros fósseis de serpentes primitivas dá-nos mais um exemplo paleontológico de que a evolução é um facto: as serpentes actuais tiveram um ancestral comum que tinha pernas!

Ironicamente, os ancestrais dos tetrápodes (organismos vertebrados com quatro membros) primitivos ‘esforçaram-se’ tanto por desenvolver membros que lhes permitissem locomoverem-se em terra firme e depois as serpentes fazem-lhes esta desfeita.



Sugestões de leitura:

Caldwell, M. (2003 ) "Without a leg to stand on": on the evolution and development of axial elongation and limblessness in tetrapods. Canadian Journal of Earth Sciences 40: 573–588.

Caldwell, M. & Lee, M. (1997) A snake with legs from the marine Cretaceous of the Middle East. Nature 386: 705-709.

sábado, junho 21, 2008

5 dinossauros... 5 fotografias

O post de hoje é composto por 5 fotografia originais de dinossauros: Othnielia, Archaeornithomimus, Afrovenator, Bambiraptor e Byronosaurus.








Réplica do pé de Othnielia rex, um ornitópode.




Crânio original de Byronosaurus, um dinossauro terópode (carnívoro).








Réplica do esqueleto de um Archaeornithomimus, um dinossauro terópode ornitomimossauro.

Bambiraptor (réplica de esqueleto), dinossauro terópode.


Afrovenator, réplica do membro posterior (perna). Dinossauro terópode.

quarta-feira, junho 18, 2008

24 anos de Museu da Lourinhã

Dia 24 o Museu da Lourinhã faz 24 anos. Nasceu a 24 de Junho de 1984. Venha visitar!



www.museulourinha.org

domingo, junho 15, 2008

Lenda da N. Sra. da Pedra da Mua

Reza a lenda que dois peregrinos viram Nossa Senhora a subir as arribas do Cabo Espichel montada numa mula gigante que deixou as suas pegadas bem marcadas na laje do Jurássico superior. Nesse local, construíram um enorme complexo religioso, o que inclui um convento, uma igreja e a pequena Ermida da Memória onde se encontra painéis de azulejos que relatam a lenda. Entre eles está o seguinte, onde se vê as pegadas.


Acontece que essas pegadas são de dinossauros saurópodes (ainda se podem ver actualmente no Cabo Espichel) e esta imagem acaba por ser uma das mais antigas ilustrações de pegadas de dinossauros que se conhecem.

Imagem publicada em: ANTUNES, M.T. & MATEUS, O. (2003). Dinosaurs of Portugal. C. R. Palevol, 2: 77-95.PDF

Veja também o blog Folklore De Los Fósiles Ibéricos em http://folklore-fosiles-ibericos.blogspot.com/ sobre outros temas de folclore paleontológico.

Talvez esta seja uma representação mais acertada?Fotografia por Karol Sabath.

sábado, junho 14, 2008

Morrison e Portugal

A Formação de Morrison (na América do Norte) é incrivelmente semelhante ao Jurássico Superior de Portugal.

Fotografias do Jurássico Superior de Portugal (Porto Dinheiro) e da localidade-tipo de Morrison.


Temos em comum os seguintes géneros de animais:
Ostracodos: Cetacella, Rhynocipris, Candona, Theriosynoecum, Bisulcocypris, Timiriasevia, and Darwinula
Squamatas: Paramacellodus, Dorsetisaurus
Coristodiros: Cteniogenys
Crocodilos: Goniopholis
Dinossauros: Ceratosaurus, Torvosaurus, Allosaurus, ?Apatosaurus, ?Aviatyrannis, Stegosaurus, Dryosaurus
Mamíferos: Dryolestes, Laolestes.

As áreas, contudo, são bem distintas. Veja o mapa da Formação de Morrison, do Jurássico Superior de Portugal e das Camadas de Tendaguru (Tanzânia), à mesma escala.



Imagens publicada em:
MATEUS, O. (2006). Late Jurassic dinosaurs from the Morrison Formation, the Lourinhã and Alcobaça Formations (Portugal), and the Tendaguru Beds (Tanzania): a comparison. in Foster, J.R. and Lucas, S. G. R.M., eds., 2006, Paleontology and Geology of the Upper Jurassic Morrison Formation. New Mexico Museum of Natural History and Science Bulletin 36: 223-231. PDF

sexta-feira, junho 13, 2008

Jurássico Superior de Portugal


Sobre a fauna do Jurássico Superior de Portugal, deixo aqui esta imagem pintada por Alan Lam e publicada em Mateus (2006):

(original no Museu da Lourinhã).

Elementos da imagem: Lusotitan, Dacentrurus, Draconyx, Dinheirosaurus, aves, Torvosaurus, Allosaurus, Dracopelta, Ramphorhynchus, Lourinhanosaurus, fabrossaurídeo, Goniopholis, mamífero e Ceratosaurus.


Referência:
MATEUS, O. (2006). Late Jurassic dinosaurs from the Morrison Formation, the Lourinhã and Alcobaça Formations (Portugal), and the Tendaguru Beds (Tanzania): a comparison. in Foster, J.R. and Lucas, S. G. R.M., eds., 2006, Paleontology and Geology of the Upper Jurassic Morrison Formation. New Mexico Museum of Natural History and Science Bulletin 36: 223-231. PDF

Seminário "Paisagens Geológicas"


Hoje assisti a excelentes palestras na Nazaré integradas no Seminário Paisagens Geológicas, organizado pela Câmara Municipal da Nazaré e pelo Museu Mineralógico e Geológico da Universidade de Coimbra 12 a 14 de Junho de 2008.

João Duarte (Inst. Hidrog.) “As cabeceiras do Canhão Submarino da Nazaré”
João Vitorino (IH), “Uma porta para o oceano profundo - o Canhão Submarino da
Nazaré”
Catarina Guerreiro (IH), “Nanoplâncton calcário: traçador da (paleo)ecologia e da dinâmica sedimentar do Canhão da Nazaré“
Luís Vítor Duarte (Univ. Coimbra) “Importância do Jurássico Inferior da Zona Costeira Ocidental Portuguesa”
Paulo Caetano (Univ. Nova de Lisboa), “Paisagens jurássicas na Bacia Lusitaniana”

A minha palestra foi:
Octávio Mateus (UNL e Museu Lourinhã), “Fauna de vertebrados do Jurássico Superior de Portugal”

Quem puder ir ao Cine-Teatro da Nazaré, aproveite.
Dia 12 e 13: Palestras; dia 14 saída de Campo.
Mais informações aqui.

sábado, junho 07, 2008

Saída campo a Alhadas

Texto por Bruno Pereira.

No passado dia 24 de Maio, eu, Ricardo araújo e o Octávio Mateus fomos fazer uma saída de campo na zona de Alhadas (ao Norte da Figueira da Foz).
Alhadas situa-se no flanco Sul do antiforma da Figueira da Foz, onde as rochas aflorantes são jurássicas.
No caminho deparámos com este magnífico afloramento, onde é evidente um paleoleito de rio a curtar uma sequência de depósitos lacustres. Como se vê na fotografia é bem visível essa intersecção pela diferença de tonalidades entre os sedimentos.

Chegados a Alhadas, os cortes recentes, feitos pela construção da auto-estrada, que pretendiamos prospectar estavam interditos. Infelizmente a auto-estrada já está em funcionamento pelo que não podêmos aceder a eles.

Tivemos então que nos contentar com explorar as zonas não vedadas pela cerca da autoestrada, o que se revelou produtivo para as amonites (bonitas e grandes).

Saídos deste local, fomos visitar uma pedreira ainda na zona de Alhadas. Aí estavam mais uma vez presentes as amonites, bem como belemnites e raros braquiópodes (Rhynconellas).

Com o dia no fim fomos dar um pulinho até Buarcos, à pedreira da Cimpor. Os buracos que vêem na foto não são pegadas, são sim marcas de explosões quando a cimenteira estava em laboração.

domingo, junho 01, 2008

Feiras de fósseis?

Será que promover feiras de fósseis será a forma certa de proteger o património?

Em Portugal várias instituições de ensino, investigação e museologia têm o hábito de promover feiras de fósseis e minerais (veja aqui um exemplo numa escola secundária).

Será esta a melhor forma de protegermos o nosso património? Será que as instituições públicas não deviam repudiar o comércio de fósseis em vez do promover?

No meio da arqueologia, por exemplo, é impensável (e obviamente proibido) os museus, universidades e escolas promoverem a venda de machados neolíticos ou vestígios humanos. Então, porque é que na geologia as instituições congéneres o fazem com ovos de dinossauro, amonites raras, e outros fósseis?

Será que o dinheiro que estas instituições recebem nestas feiras compensa este fomento ao comércio de fósseis e subsequente exploração comercial de jazidas porventura cientificamente importantes?

Pessoalmente, fico seriamente preocupado quando vejo fósseis de dinossauros da Lourinhã (ou qualquer outros fósseis de vertebrados portugueses) à venda em stands de vendas de fósseis.

Compreendo que existam empresas comerciais que o façam… mas as universidades?
Este é um tema em que a situação portuguesa sempre me deixou perplexo e não vejo os nossos colegas geólogos, biólogos e paleontólogos a debaterem.