quarta-feira, novembro 27, 2019

Identificação de dentes de dinossauros carnívoros

Um novo estudo analisou em detalhe os dentes dos dinossauros carnívoros e permite identificar dentes isolados, algo considerados muito difícil até agora. Este é o resultado da tese de doutoramento de Christophe Hendrickx na Universidade Nova de Lisboa.

Os dentes terópodes isolados são alguns dos fósseis de vertebrados mais comuns no registro fóssil do mesozóico e são continuamente relatados na literatura científica. Métodos quantitativos recentemente desenvolvidos melhoraram nossa capacidade de testar as afinidades de dentes isolados, mas na maioria dos estudos, os dentes são diagnosticados em caracteres qualitativos. Isso pode ser problemático porque a distribuição dos caracteres dentais dos terópodes ainda é pouco documentada e frequentemente restrita a uma linhagem. Para ajudar na identificação de dentes terópodes isolados e para avaliar com mais rigor seu potencial taxonómico e filogenético, Hendrickx et al. (2019) avaliaram as características dentárias de duas maneiras. Analisamos primeiro a distribuição de 34 caracteres dentários qualitativos em uma ampla amostra de taxa. Propriedades funcionais para cada característica dental foram incluídas para avaliar como a similaridade funcional gera homoplasias. Em seguida, compilaram uma matriz quantitativa de dados de 145 caracteres dentários para uma taxa de 97 saurísquios. Este último foi utilizado para avaliar o grau de homoplasia dos caracteres dentários qualitativos, abordar questões de sobre o valor taxonómico e bioestratigráfico dos dentes dos terópodes e explorar as principais tendências evolutivas na dentição dos terópodes.





Em conjuntos reduzidos de dados filogenéticos de Theropoda, os caracteres dentários exibem níveis mais altos de homoplasia do que os caracteres não dentários, mas ainda fornecem informações úteis de agrupamento e otimizam sinapomorfias locais de clados inferiores. Em conjuntos de dados filogenéticos mais amplos, o grau de homoplasia exibido por caracteres dentais e não dentários não é significativamente diferente. Características dentárias nas ornamentações das coroas, textura do esmalte e microestrutura dentária têm significativamente menos homoplasia do que outras características dentárias e podem ser usadas para identificar muitos taxas de terópodes no nível de 'família' ou 'subfamília', e algumas de género ou espécie. Essas características devem, portanto, ser uma prioridade para investigações que procuram classificar dentes isolados.

Estas observações melhoram a utilidade taxonômica dos dentes dos terópodes e, em alguns casos, podem ajudar a tornar os dentes isolados úteis como marcadores bioestratigráficos. Essa lista proposta de características dentárias em terópodes deve, portanto, facilitar futuros estudos sobre a paleontologia sistemática de dentes isolados.

Hendrickx, C., Mateus O., Araújo R., & Choiniere J. (2019).  The distribution of dental features in non-avian theropod dinosaurs: Taxonomic potential, degree of homoplasy, and major evolutionary trends. Palaeontologia Electronica. 22(3), 1-110.
https://palaeo-electronica.org/content/2019/2806-dental-features-in-theropods



quinta-feira, novembro 14, 2019

Laboratório do Museu da Lourinhã re-inaugurado

O Laboratório de Paleontologia do Museu da Lourinhã vai ser re-inaugurado após intervenções de melhoramento, e abre com um novo nome: "Laboratório Isabel Mateus".

Replicamos aqui a comunicação do GEAL-Museu da Lourinhã no Facebook sobre este assunto:
No próximo dia 15 de novembro, sexta-feira, pelas 17H00, vamos inaugurar o novo laboratório de conservação e restauro do Museu da Lourinhã, agora nomeado “Laboratório Isabel Mateus”.
Aproveitamos também este momento, para proceder à assinatura dos protocolos entre o GEAL e os investigadores responsáveis pelos projetos aprovados no âmbito do Programa de Incentivo à Investigação Horácio Mateus.

A atual denominação do laboratório constitui uma forma de homenagem a uma das associadas fundadoras do GEAL e cofundador do Museu e, ainda, uma das impulsionadoras do trabalho científico e laboratorial no Museu da Lourinhã, Isabel Mateus.

O PIIHM tem por objetivo apoiar projetos de investigação e estudos avançados nos domínios das Ciências Naturais e Sociais, nomeadamente Antropologia, Arqueologia, Geologia e/ou Paleontologia e História Local, com incidência no Concelho da Lourinhã. Este ano, foram considerados apenas projetos nos domínios da Geologia e/ou Paleontologia.

A reestruturação do laboratório e o PIIHM tiveram o apoio financeiro da empresa PDL - Parque dos Dinossauros da Lourinhã, no âmbito do protocolo de cooperação celebrado entre a PDL, o Município da Lourinhã e o GEAL, destinado ao desenvolvimento do trabalho científico, no concelho da Lourinhã.

Isabel Mateus no Museu da Lourinhã, em 2014 (Foto: D. Serrette)

quarta-feira, novembro 13, 2019

Novo esqueleto de dinossauro Miragaia dá novas pistas sobre a evolução dos estegossauros e resolve antigos mistérios na paleontologia



Um esqueleto quase completo de dinossauro descoberto há 60 anos na Atouguia da Baleia, concelho de Peniche, resolve dois mistérios sobre dinossauros estegossauros: Miragaia é um género válido, e uma espécie descoberta muito antes na América do Norte é na realidade mais aparentada a espécies europeias.
Francisco Costa e Octávio Mateus, paleontólogos da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e colaboradores do Museu da Lourinhã, descreveram na prestigiosa revista científica PLOS ONE um novo espécime, excepcionalmente completo do dinossauro estegossauro Miragaia longicollum, do Jurássico Superior de Atouguia da Baleia em Peniche, Portugal. 
Este espécime recentemente descrito, propriedade do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), é o estegossauro mais completo descoberto na Europa e o dinossauro mais completo descrito de Portugal. Este é revelador quanto a várias partes do corpo de esqueleto da espécie previamente desconhecidos, especialmente da metade traseira do esqueleto, ajudando a resolver muitos dos seus mistérios científicos. 
Este novo esqueleto foi encontrado em 1959 por Georges Zbyszewski, enquanto realizava levantamentos de geocartografia para os Serviços Geológicos de Portugal, e desde então ficou guardado em reserva no LNEG, até que em 2015 Francisco Costa começou a o estudar como o tópico principal de tese de Mestrado em Paleontologia, sob coordenação de Octávio Mateus. Durante este estudo, este esqueleto com 152 milhões de anos foi completamente preparado no LNEG, onde Francisco Costa beneficiou duma bolsa de investigação financiada pelo LNEG para desenvolver este projecto.
Estegossauros são dos dinossauros mais icónicos, melhor conhecidos pelo género Stegosaurus, mas os seus fósseis são dos mais raros mundialmente, fazendo deste grupo um dos mais misteriosos entre dinossauros. "Em Portugal e Espanha, no entanto, a situação é diferente: estegossauros da pequena subfamília Dacentruriane são alguns dos dinossauros mais comuns e com mais distribuição", afirmou Francisco Costa. Esta subfamília foi descoberta na Inglaterra na década de 1870, com parte do esqueleto traseiro dum dinossauro chamado Dacentrurus armatus. Na década de 1990, a metade frontal dum esqueleto foi encontrada na Lourinhã, em Portugal, que levou em 2009 ao baptizmo da nova espécie de estegossauro Miragaia longicollum. Dado que estes, os espécimes de referência de ambas estas espécies, estão apenas parcialmente completos, com material de possível comparação limitado, isto levou os paleontólogos a regularmente discutirem a validade de M. longicollum como espécie e a classificação dos variados dacentrurinos conhecidos na Europa. Dacentrurus era conhecido pelos membros posteriores e cauda, enquanto que Miragaia era conhecido pelo pescoço, cabeça e membros anteriores. As duas espécies não podiam ser comparadas adequadamente até hoje.
Para resolver esta situação, o espécime recentemente descrito, o dacentrurino mais completo conhecido, tem servido de "Pedra de Rosetta" dado que ele inclui tanto esqueleto frontal como traseiro. Este permitiu confirmar que Miragaia longicollum é uma espécie válida e distinta, baseado em 29 características morfológicas distintas.
Este espécime também permitiu uma descoberta adicional inesperada, resolvendo um enigma com mais de um século de idade sobre um dos estegossauros mais misteriosos: Alcovasaurus longispinus do Jurássico Superior do Wyoming (EUA), conhecido pelos seus espinhos caudais excecionalmente longos. Só um espécime foi encontrado, em 1908, que foi destruído por uma inundação na década de 1920, só sobrevivendo algumas ilustrações dos seus ossos fósseis. A posição deste animal na árvore da vida manteve-se um mistério desde então, até que várias características osteológicas partilhadas com o espécime português, principalmente na cauda, revelaram que esta espécie americana é de origem europeia e com parentesco próximo de Miragaia longicollum. Isto permitiu reclassificar a espécie e com a nova combinação Miragaia longispinus, dados os fortes indícios que ela pertence ao género Miragaia. Isto comprova a presença de um novo grupo de dinossauros na América do Norte. 
O estegossauro de Atouguia da Baleia estará em breve exposto em posição de vida no Museu Geológico do LNEG (Lisboa), como resultado dum projecto do LNEG em parte financiado pelo Parque dos Dinossauros da Lourinhã. O estudo deste espécime e de outros estegossauros europeus continuará na investigação de doutoramento por Francisco Costa, sob coordenação de Octávio Mateus. 
"MG 4863 é um adição de valor inestimável ao registo fóssil português, contribuindo largamente para melhor compreender tanto Dacentrurinae como estegossauros num todo, os paleoecossistemas do Jurássico Superior na Europa e trocas através do proto-Oceano Atlântico Norte com a América do Norte", afirma Octávio Mateus, um dos autores que baptizou e primeiro descreveu o dinossauro Miragaia.
Como é um estegossauro dacentrurino? Os estegossauros são dos animais pré-históricos mais icónicos, facilmente reconhecidos entre outros dinossauros herbívoros quadrúpedes pela fileira dupla de placas e espinhos que os adornam desde a pequena cabeça até à ponta da cauda. Estegossauros dacentrurinos são, mesmo entre estegossauros, particularmente enigmáticos e únicos, evidenciando os espécimes de Miragaia pescoços excepcionalmente compridos, espinhos caudais de lâmina dupla com recorde de comprimento, músculos dos braços particularmente vastos e caudas especializadas com grandes espinhos.

O artigo completo pode ser acedido em Open access aqui:
Costa, F. & Mateus, O. (2019). Dacentrurine stegosaurs (Dinosauria): a new specimen of Miragaia longicollum from the Late Jurassic of Portugal resolves taxonomical validity and shows the occurrence of the clade in North America. PLOS ONE https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0224263

Figura 1. Miragaia MG 4863 de Atouguia da Baleia

Figura 2. Reconstrução esquelética de Miragaia MG 4863, com um homem de 1.8m de altura para escala

Figura 3. Miragaia MG 4863 no início do estudo em setembro de 2015 (esquerda), e em março de 2016 após alguma preparação laboratorial para remoção de sedimento (direita)

Figura 4. Os dois autores do artigo científico, Octávio Mateus (esquerda) e Francisco Costa (direita), trabalhando com o crânio de Miragaia
Figure 5. Francisco Costa a estudar o espécime de referência de Miragaia longicollum no Museu da Lourinhã

Figure 6. Preparação laboratorial de uma vertebra dorsal de Miragaia MG 4863 
Figure 7. Vértebras do pescoço de Miragaia MG 4863, como guardadas em reserva no LNEG no início do estudo 
Figure 8. Vértebras caudais de Miragaia MG 4863

Figure 9. Reconstrução esquelética de Miragaia MG 4863 com alguns dos elementos fósseis mais relevantes


Actualização
Impacto nos meios de comunicação sociais:
https://www.alvorada.pt/novo/index.php/12-sociedade/818-esqueleto-de-dinossauro-de-atouguia-da-baleia-resolve-antigos-misterios-na-paleontologia
https://www.jornaldeleiria.pt/noticia/dinossauro-descoberto-em-peniche-da-novas-pistas-sobre-os-estegossauros
https://blogs.scientificamerican.com/laelaps/old-stegosaur-alters-history-of-armored-dinosaurs
https://observador.pt/2019/11/14/investigadores-portugueses-revelam-importancia-de-dinossauro-guardado-ha-60-anos-o-mais-completo-estegossauro-da-europa/
https://www.noticiasaominuto.com/pais/1358007/paleontologos-reclassificam-dinossauro-com-base-em-especie-portuguesa
https://observador.pt/2019/11/13/paleontologos-reclassificam-dinossauro-americano-com-base-em-especie-portuguesa/
https://sicnoticias.pt/mundo/2019-11-13-Paleontologos-reclassificam-dinossauro-americano-com-base-em-especie-portuguesa
https://www.tsf.pt/portugal/cultura/paleontologos-reclassificam-dinossauro-americano-com-base-em-especie-portuguesa-11511573.html

terça-feira, novembro 05, 2019

Novo edifício da Câmara de Valongo representa uma trilobite

O novo edifício a construir da Câmara de Valongo representa uma trilobite, segundo o conteúdo patrocinado do Jornal de Notícias anunciado ontem, 4 de Novembro de 2019.

É fantástico ver a paleontologia a inspirar a arquitectura e a contribuir para a sociedade desta forma.

Imagem: JN

Livro «À Descoberta dos Fósseis em Portugal»

Há um novo livro sobre fósseis de Portugal, «À Descoberta dos Fósseis em Portugal», escrito por Manuel Lima e edição do próprio.


O livro tem "Breves referências a alguns dos mais interessantes registos fossilíferos encontrados no nosso país  |  A vida durante as Eras Paleozóica, Mesozóica e Cenozóica | 542 milhões de anos de Geistória".


Trata-se de uma publicação, com 248 páginas e ilustrada com 440 fotografias a cores, do autores ou copiadas de numerosos sites de Internet, incluindo o blog Lusodinos, organizado por:

  • Alguns conceitos relativos à paleontologia e à geistória
  • A Evolução da Vida
    • Era Paleozóica ou "Era das Trilobites"
    • Era Mesozóica ou "Era dos Répteis"
    • Era Cenozóica ou "Era dos Mamíferos"
    • Museus portuguesescom exposições de fósseis e paleontologia
    • Bibliografia

O autor é licenciado em Educação no Instituto Piaget e professor aposentado do ensino secundário.

Título: À Descoberta dos Fósseis em Portugal
Autor: Manuel Lima
Edição: Manuel Lima
Outubro de 2019. 248 páginas.
1000 exemplares; Dep. Legal nº 460547/19; Sem ISBN



segunda-feira, novembro 04, 2019

Pequeno esqueleto do Jurássico da Lourinhã mostra a evolução da couraça dos crocodilos

Um pequeno antepassado dos crocodilos, com 150 milhões de anos, foi descoberto nas rochas jurássicas da Lourinhã e ajuda a explicar a evolução e origem da couraça óssea que existe na pele destes répteis.

Os paleontólogos Eduardo Puértolas Pascual e Octávio Mateus da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e do Museu da Lourinhã, acabam de anunciar um novo fóssil de crocodilomorfo-anão do Jurássico de Portugal publicado na prestigiada revista científica internacional Zoological Journal of the Linnean Society. Este trabalho faz parte do trabalho de investigação científica sobre crocodilomorfos de Portugal, que Eduardo Puértolas tem realizado como parte da investigação de pós doutoramento. Os crocodilomorfos são o grupo de répteis que deu origem aos crocodilos modernos e o fóssil, carinhosamente apelidado "crocodilinho", consiste em parte de um esqueleto em conexão anatómica de um crocodilomorfo, composto por osteodermes, vértebras, costelas e alguns ossos dos membros posteriores. Em vida, o animal teria menos de um metro.
O "crocodilinho" foi recuperado na Praia de Peralta (Lourinhã, Portugal), em 1999, por  Leandro Pereira um residente do Concelho da Lourinhã à data. Já em 2014 e por mediação de Ana Luz, sua amiga e voluntária no Museu da Lourinhã, Leandro  doou a peça à coleção paleontológica do Museu da Lourinhã.
O fóssil é composto por vários ossos articulados, parcialmente coberto por matriz rochosa. Para facilitar seu estudo, o espécime foi levado para os laboratórios do Centro Nacional de Investigación sobre la Evolución Humana (CENIEH, Burgos, Espanha), onde foi submetido a uma micro Tomografia Computorizada (micro TC). Esta tecnologia tem sido amplamente utilizada em paleontologia, há vários anos, e permite a obtenção de imagens de seções do objeto, através de raios-X. As imagens obtidas possibilitaram criar modelos 3D, que permitem observar morfologias externas e internas.




Graças a essa técnica, foi possível estudar todos os ossos, incluindo partes não visíveis, e compará-los com outros crocodilomorfos da época. A presença de vértebras anficélicas, típicas na maioria dos crocodilomorfos primitivos, a morfologia peculiar da sua armadura dérmica (formada por duas fileiras de osteodermes dorsais que se articulam através dum espinho lateral), e a presença de osteodermes ventrais poligonais, indicam que, muito provavelmente, o "crocodilinho" é um membro da família já conhecida no Jurássico, os Goniopholididae mas não tendo sido possível determinar a que gênero ou espécie em particular o fóssil pertencia ou se corresponde a uma nova espécie.
Este tipo de crocodilomorfos que podem atingir tamanhos até mais de 5 m de comprimento, no entanto, estimou-se que o “Crocodilinho” medisse menos de um metro de comprimento, daí a sua alcunha. Mas será que as pequenas dimensões deste exemplar significam que se tratava de um juvenil, ou de uma espécie estranhamente pequena? É uma questão para já sem resposta. Para a obter, é necessário determinar a idade do indivíduo e esse é um trabalho ainda em curso.


Informação adicional
O fóssil do “Crocodilinho” (ML 2555) foi descoberto em depósitos de origem continental,  do Jurássico Superior, pertencente à Formação da Lourinhã. Esta unidade geológica aflora um pouco por toda a Região Oeste, sendo conhecida mundialmente pela grande quantidade de fósseis de dinossauro nela encontrados. Esta é sem dúvidas uma das regiões mais ricas do mundo em descobertas de Dinossauros e com uma herança de interesse geológico que remonta a mais de 150 milhões de anos.
A família dos Goniopholididae são um grupo extinto de crocodilomorfos que viveram principalmente na Europa, Ásia e América do Norte, durante os períodos Jurássico e o Cretácico. Embora sua morfologia geral se assemelhe à dos crocodilos atuais, esta linhagem que se separou de jacarés, crocodilos e gaviais no Jurássico, apresentando consideráveis ​​diferenças anatómicas. Uma dessas diferenças é a sua armadura dérmica. Esta armadura dérmica é formada por osteodermes que possuem principalmente três funções: proteção, absorção de calor e estabilidade. A estabilidade é alcançada pelo que é chamado de "sistema de suporte", consistindo num conjunto de vértebras, osteodermes e músculos que, atuando como um todo, conferem estabilidade ao esqueleto do organismo durante a sua locomoção.
A descoberta deste novo espécime, preservado em conexão anatómica e em 3 dimensões, serviu para testar hipóteses anteriores sobre o “sistema de suporte” desta família de répteis. Um esqueleto deste tipo daria a rigidez e estabilidade necessárias para para a locomoção deste grupo de organismos em terra. No entanto, isso significaria que perdesse alguma da flexibilidade lateral durante a natação.
A idade do indivíduo a que pertenceu este fóssil será determinada por estudos dos tecidos ósseos, que irão decorrer dentro em breve. Só assim será possível saber se exemplar pertenceu a uma espécie anã ou se é realmente um indivíduo juvenil de uma espécie maior.


Referência
Puértolas-Pascual, E; Mateus, O. 2019. A three-dimensional skeleton of Goniopholididae from the Late Jurassic of Portugal: implications for the Crocodylomorpha bracing system. Zoological Journal of the Linnean Society. doi:10.1093/zoolinnean/zlz102 


Resumo do artigo em inglês:
We here describe an articulated partial skeleton of a small neosuchian crocodylomorph from the Lourinhã Formation (Late Jurassic, Portugal). The skeleton corresponds to the posterior region of the trunk and consists of dorsal, ventral and limb osteoderms, dorsal vertebrae, thoracic ribs and part of the left hindlimb. The paravertebral armour is composed of two rows of paired osteoderms with the lateral margins ventrally deflected and an anterior process for a ‘peg and groove’ articulation. We also compare its dermal armour with that of several Jurassic and Cretaceous neosuchian crocodylomorphs, establishing a detailed description of this type of osteoderms.
These features are present in crocodylomorphs with a closed paravertebral armour bracing system. The exceptional 3D conservation of the specimen, and the performance of a micro-CT scan, allowed us to interpret the bracing system of this organism to assess if previous models were accurate. The characters observed in this specimen are congruent with Goniopholididae, a clade of large neosuchians abundant in most semi-aquatic ecosystems from the Jurassic and Early Cretaceous of Laurasia. However, its small size, contrasted with the sizes observed in goniopholidids, left indeterminate whether it could have been a dwarf or juvenile individual. Future histological analyses could shed light on this.


Crocodilomorfo da Lourinhã na capa do Zoological Journal


Nos meios de comunicação social:
https://www.publico.pt/2019/11/04/ciencia/noticia/evoluiu-couraca-crocodilos-fossil-lourinha-pistas-1892480
https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/estudo-revela-que-couraca-dos-crocodilos-e-diferente-da-dos-seus-antepassados
https://zap.aeiou.pt/couraca-crocodilos-diferente-antepassados-289684
https://torresvedrasweb.pt/pequeno-esqueleto-do-jurassico-da-lourinha-mostra-a-evolucao-da-couraca-dos-crocodilos/