terça-feira, novembro 11, 2008

Dinossauros e outros vertebrados mesozóicos de Portugal

Dinossauros e outros vertebrados mesozóicos de Portugal

Integrada na comunicação “O Museu da Lourinhã, os dinossauros e o novo Museu do Jurássico” por Octávio Mateus e Hernâni Mergulhão, proferida no V Seminário do Património do Oeste a 25 de Outubro de 2008

Por Octávio MATEUS
Museu da Lourinhã e Univ. Nova de Lisboa
omateus@museulourinha.org

 

 A riqueza de dinossauros em Portugal

Tendo em consideração a sua dimensão, Portugal é um dos países mais ricos em vertebrados fósseis mesozóicos.

 Se olharmos para o número de géneros de dinossauros, com 25 dinossauros, Portugal aparece em sétimo lugar no ranking mundial, apenas precedido dos Estados Unidos (com 140 géneros), China (131), Argentina (64), Mongólia (62), Canadá (44) e Reino Unido (40) e seguido por França (23), Brasil (18) e África do Sul (16). Contudo, para a área do país, Portugal é destacadamente o mais rico destes países no que respeita a dinossauros.
Os dinossauros e outros vertebrados ocorrem na chamada Bacia Lusitânica e na Bacia Algarvia, sendo a maioria do Jurássico superior da região Oeste, sobretudo do Concelho da Lourinhã e Mina da Guimarota. Na Lourinhã, as recolhas têm sido feitas, essencialmente ao longo da costa devido à disponibilidade de afloramentos.

Os dinossauros viveram durante a era Mesozóica (de há 65 até 220 milhões de anos), que se divide em Triásico, Jurássico e Cretácico. Alguns dos dinossauros mais famosos são do Cretácico, mas em Portugal o Jurássico superior (de há 159 a 144 milhões de anos) é, de longe, o período mais rico. Deste período são 21 das 25 espécies de dinossauros do nosso país, que representam os principais grupos de dinossauros: os terópodes (que significa pés de besta) são carnívoros bípedes, os saurópodes (pés de réptil) são gigantes de pescoço comprido, os ornitópodes (pés de ave) são herbívoros bípedes e os tireóforos (portadores de placas) são quadrúpedes couraçados.

Por serem do Jurássico Superior (com aproximadamente 150 milhões de anos) os dinossauros como o Lourinhanosaurus, Draconyx ou Lusotitan são 85 milhões de anos mais antigos que alguns dos famosos dinossauros do Cretácico terminal (65 M.a.) como o Tyrannosaurus rex. Ou seja, quando o T. rex apareceu já estes dinossauros eram fósseis há cerca de 85 milhões de anos.

O mundo do Jurássico Superior

Mas nem só dinossauros povoaram a Bacia Lusitânica durante o Jurássico superior e ocorrem vestígios de outro vertebrados como os anfíbios, tartarugas, lagartos, plesiossauros, coristodiras, crocodilomorfos e pterossauros.

O mundo jurássico também era muito diferente do que conhecemos hoje: a Índia, Austrália e Antártica estavam juntas num único continente no pólo sul. Os continentes de África e América do Sul estava junto e não havia Atlântico Sul. A Europa era um arquipélago, do qual fazia parte uma ilha, o “bloco Ibérico”, que hoje corresponde a Portugal e Espanha. Como o Atlântico Norte tinha sido formado há pouco tempo, a América do Norte não estava muito afastada da Ibéria, o que explica a presença dos mesmos géneros de dinossauros nas duas áreas. Além disso a linha de costa de Portugal era igualmente distinta da de hoje pois um mar interior entrava no que é hoje a área de Setúbal a Lisboa e percorria até Aveiro, bordeado por uma cordilheira a oeste, do qual as Berlengas são o último vestígio visível. Ou seja, na Região Oeste, a área da Lourinhã tinha o plano de costa invertido relativamente ao actual: mar a leste e montanhas a oeste.


Os dinossauros de Portugal

Não cabe aqui abordar exaustivamente todas as espécies de dinossauros de Portugal, pelo que se chama a atenção a algumas mais emblemáticas e com maior importância regional.

Dacentrurus armatus é um dinossauro herbívoro quadrúpede semelhante ao Stegosaurus. Embora esta espécie ocorra também em Inglaterra, França e Espanha, em Miragaia, perto da Lourinhã, foi recolhido o mais completo exemplar que compreende a metade anterior do animal, incluindo parte do crânio, o primeiro na Europa para este grupo de animais. Os crânios são muito raros e difíceis de encontrar pois desagregam-se com facilidade e não fossilizam tão facilmente. A reconstituição do esqueleto completo está em exposição no Museu da Lourinhã.

Draconyx loureiroi é um dinossauro herbívoro bípede apenas conhecido em Portugal. Quando foi descrito, em 2003, reconheceu-se que era uma nova espécie para a Ciência, pelo que pode receber um novo nome: Draco significa dragão, e onyx significa garra, porque as garras deste dinossauro foram dos primeiros ossos a serem recolhidos; loureiroi honra o primeiro paleontólogo, João de Loureiro. Como o fóssil do Museu da Lourinhã foi o primeiro a ser reconhecido desta espécie ele é um exemplar de referência, a que os paleontólogos apelidam de holótipo. Os holótipos são de grande importância entre os cientistas pois são os exemplares de referência mundial para esta espécie.

Dinheirosaurus lourinhanensis é um saurópode descoberto na Praia de Porto Dinheiro, na Lourinhã, o que lhe deu o nome. Trata-se do dinossauro português mais comprido e estima-se que teria 25 metros. Tal como todos os outros dinossauros de Portugal, não se conhece o esqueleto completo, mas uma série de vértebras e costelas do pescoço e dorso. Também este é uma espécie única no mundo e o holótipo está exposto no museu lourinhanense.

Lusotitan atalaiensis deve o seu nome por ser o titã lusitano, vindo de Atalaia, uma aldeia costeira do concelho da Lourinhã. Foi descoberto na década de 1940 e julgava-se ser um dinossauro muito semelhante chamado Brachiosaurus, mas estudos ulteriores confirmaram tratar-se de um novo género. Apesar de não ser o mais longo, este devia ser o mais alto e mais pesado dinossauro de Portugal. Tinha, possivelmente, 12 metros de altura e cerca de 20 de comprimento.

Torvosaurus tanneri foi o maior predador terrestre do Jurássico tendo sido descoberto nos Estados Unidos e Portugal. O exemplar português inclui parte do crânio, com quase um metro e meio de comprimento, e dentes de 15 cm semelhantes a facas. O crânio deste carnívoro é a mais recente incorporação na exposição permanente do Museu da Lourinhã.

Lourinhanosaurus antunesi é, possivelmente, o dinossauro mais emblemático da Lourinhã. É um dinossauro carnívoro de médio porte, isto é, cerca de 4,5 metros de comprimento, que recebeu o nome em dedicação à vila da Lourinhã e ao paleontólogo português [Miguel Telles] Antunes, colaborador do Museu da Lourinhã, onde se encontra o exemplar de referência, o holótipo. Além do esqueleto ser o mais completo dinossauro carnívoro de Portugal, também se encontraram ovos e embriões o que é uma descoberta de importância global. São os segundos mais antigos embriões de dinossauro conhecidos e permitiram aos paleontólogos conhecer mais sobre a reprodução, crescimento e nidificação dos dinossauros carnívoros.

 

Pegadas

Além dos ossos fósseis, Portugal é muito rico em pegadas de dinossauros, com mais de de uma trintena de jazidas, o que permite conhecer outras vertentes destes animais, tal como partes do seu comportamento e velocidade de deslocação. Além disso as pegadas dão a ocorrência da presença de dinossauros em áreas e idades geológicas nas quais não se conhecem ossos.

Sem comentários: