Um dos mais completos plesiossauros de África descoberto em Angola
Um dos mais completos plesiossauros de África foi descoberto em Angola por paleontólogos da Universidade NOVA de Lisboa. Este novo estudo publicado na prestigiada revista PlosOne revela o mais completo crânio de plesiossauro de África sub-sahariana, tendo sido descoberto e escavado na província do Namibe, Angola, por Octávio Mateus, em 2017.
O estudo deste réptil marinho com 72 milhões de anos foi o resultado da tese do Mestrado em Paleontologia da Universidade NOVA de Lisboa em associação com a Universidade de Évora, por Miguel Marx.
Além de ser o mais completo plesiossauro de África sub-sahariana o achado é importante porque tem um crânio bem preservado e articulado. Esta é a mais recente descoberta do Projecto PaleoAngola, uma iniciativa científica que já deu a conhecer o primeiro dinossauro de Angola e outros vertebrados fósseis daquele país, numa cooperação que inclui a Universidade Nova de Lisboa, Museu da Lourinhã, Universidade Agostinho Neto em Angola e instituições nos Estados Unidos e Holanda.
Foi classificado como Cardiocorax mukulu, uma espécie que o Projecto PaleoAngola já tinha descoberto em Angola em 2015. Os plesiossauros elasmosaurídeos, semelhantes ao mítico monstro de Loch Ness, podiam atingir 20 metros de comprimento, com cabeças pequenas e pescoços muito longos.
A natureza tridimensional bem preservada do crânio oferece uma visão rara da anatomia craniana de plesiossauros elasmosaurídeos. O novo espécime de Cardiocorax mukulu foi recuperado em Bentiaba, província do Namibe, em rochas do Cretácico Superior com cerca de 72 milhões de anos. Cardiocorax mukulu representa uma linhagem mais antiga de elasmosaurídeos e que pouco se alterou em dezenas de milhões de anos, o que surpreendeu os paleontólogos. A tomografia computadorizada do crânio revelou que a anatomia craniana desta linhagem pouco evoluiu ao longo dos 22 milhões de anos.
O trabalho de laboratório foi feito na Universidade Nova de Lisboa. O principal autor do estudo, Miguel Marx, que terminou o seu mestrado em Portugal, vai iniciar o seu doutoramento na Universidade de Lund, na Suécia, no final deste mês. Outros co-autores incluem Octávio Mateus da Universidade Nova de Lisboa e Museu da Lourinhã, Louis Jacobs e Michael Polcyn da Southern Methodist University dos Estados Unidos, Anne Schulp do Centro de Biodiversidade Naturalis e da Universidade de Utrecht na Holanda; e Olímpio Gonçalves da Universidade Agostinho Neto em Angola.
Muitos dos fósseis de Angola colhidos por esta equipa estão atualmente em exibição no Museu Nacional de História Natural do Smithsonian, em Washington, na exposição temporária "Sea Monsters Unearthed". Posteriormente passam por Portugal, antes de regressarem todos definitivamente a Angola. Alguns fósseis desta espécie podem também já ser vistos no Museu da Lourinhã antes de voltarem à sua origem.
Artigo científico:
https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0255773
Marx MP, Mateus O, Polcyn MJ, Schulp AS, Gonçalves AO, et al. (2021) The cranial anatomy and relationships of Cardiocorax mukulu (Plesiosauria: Elasmosauridae) from Bentiaba, Angola. PLOS ONE 16(8): e0255773. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0255773
Miguel Marx, autor do estudo, durante o Mestrado em Paleontologia, na Universidade Nova de Lisboa.
Octávio Mateus a escavar o plesiossauro em 2017.
Representação artística por Pedro Andrade.
Elasmosaurus, platyurus, uma espécie parecida ao Cardiocorax (creative commons, autor: DiBgd).
Crânio de Cardiocorax mukulu
Crânio de Cardiocorax mukulu (por Miguel Marx)
Sem comentários:
Enviar um comentário