segunda-feira, agosto 31, 2015

Vitrais paleontológicos e megafauna brasileira


Vitrais e paleontologia formam uma combinação tão bonita quanto rara. Durante a construção do Grande Hotel de Araxá, em Minas Gerais no Brasil, foram descobertos numerosos vertebrados representantes da megafauna pleistocénica (60 a 55.000 anos) da América do Sul.
Aqui foram recolhidos cavalos Amerhippus neogaeus, preguiça gigante Eremotherium laurillardi, macrauquenídeo Xenorhinotherium bahiense, gonfotério Notiomastodon platensis recolhidos por Llwellyn Ivor Price e Ruben da Silva Santos (Price, 1944) e mais tarde estudados por Simpson e Paula Couto (1957).

Essa jazida formava um barreiro com águas sulfurosas e radioactivas(!) que deram o motivo para um enorme e opulento hotel e termas associadas construídos de 1938 a 1944, que inicialmente estava previsto para albergar um casino antes do jogo ser restrito no Brasil. Por essa razão este luxuoso complexo turístico tem breves alusões a paleontologia de vertebrados. No exterior, perto da fonte, a calçada de estilo português mostra um cavalo, um Xenorhinotherium, uma preguiça e mastodonte. Um expositor apresenta réplicas dos ossos destes animais num recinto forrado a azulejos onde figuram vértebras.

No interior um fabuloso conjunto de vitrais composto de nove painéis de vários metros que contam a história do local. Começa com uma cena pré-histórica com dois Xenorhinotherium, um Toxodon, e três Glyptodon, rodeados de vegetação do Cerrado. O vitral é assinado por Frank Urban. Este é, porventura, um dos poucos e mais impressionantes vitrais paleontológicos da época.

Os ossos originais, sobretudo o material craniano, recolhidos pelo Price estão no Rio de Janeiro. No hotel mantém-se várias caixas com ossos originais, sobretudo pós-craniano, mas não acessíveis ao público.

Vitral paleontológico no Grande Hotel de Araxá (circa 1940-1944) com Toxodon, Xenorhinotherium e Glyptodon.
Na bibliografia aparece com frequência Águas de Araxá, mas esse topónimo não existe, e deveria ser apenas Araxá ou Barreiro.

Pormenores do Grande Hotel de Araxá, no Brasil.

Calçada com megafauna pleistocénica: cavalo, preguiça, macrauquenídeo e gonfotério.



Fontes: https://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Hotel_de_Arax%C3%A1
http://www.abequa.org.br/trabalhos/0018_abequamelo.pdf
http://www.dpnet.com.br/anteriores/1998/03/04/viagem2_1.html

Price LI, 1944. O Depósito de Vertebrados Pleistocênicos de Águas do Araxá (Minas Gerais). An. Acad. Bras. Cienc., 16: 193-196.
Simpson, G. G., & Couto, C. D. P. (1957). The mastodonts of Brazil. Bulletin of the AMNH; v. 112, article 2.