Os dinossauros não-avianos eram endotérmicos?
Pergunta de Inês Violante
Resposta:
Não se pode saber, com rigor, qual o metabolismo dos dinossauros não-avianos. Seja como for, os dinossauros tiveram um papel crucial na evolução de fisiologia e da termoregulação. Os antepassados dos dinossauros e mesmo os dinossauros mais primitivos era claramente poiquilotérmicos (de sangue frio) enquanto os dinossauros mais evoluídos, como as aves, são homeotérmicas (de sangue quente), por isso, algures na evolução dos dinossauros teve de ocorreu uma transição e teve de haver dinossauros com os dois tipos de metabolismo: sangue-quente e sangue-frio. Acreditamos que os terópodes eram os dinossauros com uma temperatura corporal mais constante.
Há uma relação entre estes dinossauros e os répteis hoje existentes?
Os dinossauros e os répteis actuais não tem grau de parentesco próximo, com excepção dos crocodilos, que também são arcossauros tal como os dinossauros.
segunda-feira, setembro 12, 2005
Os dinossauros não-avianos eram endotérmicos?
terça-feira, setembro 06, 2005
Ebulição lourinhanensis- Entrevista para o "Primeiro de Janeiro"
Museu da Lourinhã, Ebulição lourinhanensis
O Museu da Lourinhã nasceu da vontade de um grupo de amigos, curiosos da etnologia e arqueologia, que faziam dos seus tempos livres uma verdadeira estufa incubadora de ideias e projectos. O GEAL (Grupo de Etnologia e Arqueologia da Lourinhã), fundado em 1981, serviu de base estrutural à criação do Museu da Lourinhã, ao qual foi mesmo concedido o estatuto de Associação de Utilidade Pública.
Em entrevista ao jornal «O Primeiro de Janeiro», Simão Mateus, ilustrador e guia de visitas do Museu da Lourinhã, falou-nos acerca da génese desta instituição, sua evolução, áreas de intervenção e principais projectos.
Faça um breve historial do Museu da Lourinhã, bem como das motivações para a sua criação.
O Museu abre a 24 de Junho de 1983 com o espólio do Grupo de Etnografia e Arqueologia da Lourinhã, Associação Sem Fins Lucrativos e Pessoa Colectiva de Utilidade Pública, associação essa que ainda hoje está por trás do Museu da Lourinhã.
A riqueza arqueológica, paleontológica, e etnográfica que esta associação possuía, há 20 anos atrás, já era de tal ordem que acharam justificar-se a existência de um Museu. A partir daí, as diversas descobertas, principalmente de dinossauros, vieram a fazer crescer a popularidade do Museu e o seu número de visitantes.
O Museu começou por ocupar o antigo edifício do tribunal e das finanças da Lourinhã e, lentamente, foi-se expandindo, tendo actualmente mais do dobro da sua área inicial, sendo, mesmo assim, manifestamente insuficiente para a riqueza do seu espólio.
Enquanto local de memória dos lourinhanenses, este Museu acolhe, em paralelo com os achados paleontológicos, uma exposição de etnografia. Qual a sua extensão e quais as vertentes abrangidas?
A exposição de etnografia deve ocupar cerca de 60 por cento da área do Museu, mais a de arqueologia, que deve ocupar 10 por cento, os dinossauros devem ficar com o restante. Muitos dos visitantes que, inicialmente, não mostravam grande vontade de ver os dinossauros, acabam por ficar muito impressionados com a quantidade e qualidade das nossas exposições etnográficas. Estas abrangem desde o mundo rural e piscícola, a artes e ofícios desaparecidos ou tão alterados que dificilmente lhes notamos paralelismos nos seus instrumentos de trabalho. Temos também a recriação de uma casa rural e exposições sobre associações tão antigas e importantes para a Lourinhã como os Bombeiros Voluntários ou a banda de música.
Descreva-nos a organização espacial do Museu da Lourinhã.
O Museu tem, no seu piso de entrada, a exposição de Arqueologia e Etnografia Agrícola, depois, no primeiro andar, situa-se a sala das profissões, sala das colectividades e tempos livres e arte sacra. Descendo ao pátio, encontramos a casa tradicional saloia e, por fim, temos o pavilhão da paleontologia, onde estão os dinossauros.
Quais os eventos culturais e outros realizados ou a realizar durante este ano pelo Museu?
Em termos de paleontologia, o Museu costuma promover exposições externas, como, por exemplo, em centros comerciais, no ano passado na Assembleia da República ou há dois anos no Palácio de Cristal, no Porto, por ocasião dos “Gobissauros”, em que aliás fomos o único Museu com peças lá expostas. Promovemos também, anualmente, o Concurso Internacional de Ilustração de Dinossauros, com a exposição dos trabalhos. Na etnografia, realizamos também exposições externas, mas, infelizmente, em menor número e com menos impacto.
Como se desenvolvem as relações com as diversas instituições com as quais o Museu interage?
O Museu tem muito boas relações com as diversas instituições com que trabalha, sejam elas estatais, ONG’s ou internacionais. A Câmara Municipal da Lourinhã mostra sempre a sua disponibilidade para nos ajudar, temos exposições promovidas por associações de outras localidades e temos também uma estreita colaboração com o Museu de História Natural de Paris, por exemplo.
Como se processam as visitas ao Museu? Existe uma vertente pedagógica nesta instituição?
As visitas ao Museu podem ser livres ou guiadas. No ano passado começámos a promover um pacote especial para as escolas, que são as visitas ao campo. Nestas visitas tentamos dirigir o discurso de encontro ao programa que se dá nas aulas, nomeadamente de Biologia e Ciências da Terra, de forma a que todos consigam entender.
Qual a média anual de visitas?
Recebemos 18 mil visitantes por ano, sendo 80 por cento de escolas!
O Museu dispõe de abertura para receber a colaboração de simples curiosos? É necessário algum requisito mínimo?
O Museu vive muito do trabalho de simples curiosos, foi assim que começou e é assim que continua a fazer muito do seu trabalho, nomeadamente, dentro da paleontologia. Trabalhamos com voluntários de todo o mundo, já cá tivemos australianos, alemães, luso-descendentes do Canadá e EUA e dinamarqueses, além de outros países. No entanto, não é requisito virem de outros países, a maioria dos nossos voluntários são portugueses, muitos das escolas do concelho da Lourinhã. Requisito mínimo é mesmo vontade de trabalhar e terem mais de 14 anos.
Faz parte dos quadros do Museu um dos especialistas de renome mundial na área da paleontologia, pode-nos falar um pouco acerca do trabalho realizado por Octávio Mateus?
O paleontólogo Octávio Mateus é um dos poucos especialistas europeus em dinossauros e tem desenvolvido toda a sua formação académica ligada ao Museu da Lourinhã, fazendo aí o seu doutoramento intitulado «Dinossauros do Jurássico Superior de Portugal». Desde menino esteve ligado ao Museu da Lourinhã, participando em todas as escavações de dinossauros.
Octávio Mateus é responsável pela paleontologia do Museu da Lourinhã, o que inclui a recolha de fósseis, escavações, estudo e publicação. Um paleontólogo tem de estudar a evolução, anatomia e toda a paleobiologia das espécies em estudo, neste caso, os dinossauros. Portugal é muito rico em dinossauros, sendo o país europeu mais produtivo nesse domínio. O trabalho do Museu da Lourinhã, orientado pelo seu paleontólogo, tem sido essencial para o epíteto «Lourinhã, Capital dos Dinossauros».
Este paleontólogo descreveu várias espécies de dinossauros novas para a Ciência, tais como o Lourinhanosaurus antunesi, Draconyx loureiroi, Tangvayosaurus hoffeti, Dinheirosaurus lourinhanensis ou Lusotitan atalaiensis.
No currículo de Octávio Mateus contam-se duas dezenas de publicações em revistas científicas internacionais. A sua ligação com a Universidade Nova de Lisboa e com outras instituições académicas nacionais e internacionais têm-lhe permitido granjear uma reputação internacional, o que o tem levado a escavar fósseis em locais como Brasil, Laos, Angola e Estados Unidos. Além das suas ligações ao Museu da Lourinhã e à Universidade Nova de Lisboa, é ainda o responsável científico de um museu de dinossauros na Alemanha.
Quais os principais projectos para o futuro?
O nosso principal projecto é a construção de um novo edifício para albergar tanto espólio que ainda temos!
domingo, setembro 04, 2005
Novas pegadas de dinossauros
Recolha de algumas pegadas na Praia de Porto
Dinheiro
Foram descobertas cerca de 25 novas pegadas de dinossauros nas arribas da Lourinhã, onze das quais foram recolhidas para o Museu. Estas pegadas são, na verdade, os moldes naturais da pegada o que permite, 150 milhões de anos depois, estudar o movimento da passada. Foram identificadas pegadas de estegossauros, anquilossauros, saurópodes e terópodes, ou seja, representantes dos grandes grupos de dinossauros que existiram no Jurássico, o que deixa entusiasmados os paleontólogos Octávio Mateus, do Museu da Lourinhã e Universidade Nova de Lisboa, e o dinamarquês Jesper Milàn, do Instituto Geológico de Copenhaga, que estiveram à procura de pegadas. São as primeiras pegadas de dinossauros estegossauros e anquilossauros que se encontram em Portugal. Pegadas destes animais são raras a nível mundial.
Uma das jazidas, na Praia de Porto Dinheiro, revelou uma variedade de pegadas bem conservadas. Inclui três pegadas de dinossauros carnívoros com 35 cm de comprimento, uma pegada bem conservada de pé de dinossauro estegossauro, a primeira que se descobre em Portugal deste tipo de dinossauro. Foram também recolhidas enormes pegadas, com 1 metro, de dinossauro saurópode e que ainda conservam impressões da pele. Estas pegadas mostram que as escamas dos dinossauros saurópodes tinham um padrão hexagonal e é talvez a melhor impressão de pele das patas dos saurópodes que se conhece. Uma das descobertas mais interessantes refere-se a uma pegada de um dinossauro carnívoro de proporções gigantescas. A pegada de quase 80 cm indica que se tratava de um animal com três metros e meio até a altura da anca. Este é o indício do maior dinossauro carnívoro do Jurássico, e são quase do tamanho das pegadas do famoso Tyrannosaurus rex do fim do Cretácico.
A geologia da Lourinhã tem características excepcionais, sendo um dos poucos locais onde se recolhem restos esqueléticos e pegadas na mesma área. Esta particularidade permite aos paleontólogos estabelecer a relação entre as pegadas e os dinossauros que as produziram.
Todas estes achados datam do Jurássico superior, cerca de 150 milhões de anos, e foram coordenados pelo paleontólogo do Museu da Lourinhã e Universidade Nova de Lisboa, Octávio Mateus, e tiveram o apoio da Câmara Municipal da Lourinhã e de Valinhas Seguros.
Novo dinossauro saurópode na Lourinhã

Pormenor da escavação
Um dinossauro saurópode, foi descoberto pelo mais novo voluntário do Museu da Lourinhã, Alexandre Silva, um jovem, com apenas 10 anos na Galeana, apenas a 2 km da Lourinhã. O seu entusiasmo e interesse pelos dinossauros levaram-no a colaborar com o museu e, depois disso, a fazer o achado da sua vida.
O dinossauro é da família dos Diplodocus, que compreende alguns dos mais compridos dinossauros que se conhecem, embora este exemplar agora recolhido ainda não tivesse atingido a sua dimensão máxima. Era um jovem de apenas 15 metros de comprimento. Esta família de dinossauros já era conhecida em Portugal, pois o Museu da Lourinhã já tinha identificado uma nova espécie na Praia de Porto Dinheiro, apenas a alguns quilómetros deste novo sítio, o que lhe valeu o epíteto oficial de Dinheirosaurus lourinhanensis.
O dinossauro está envolvido numa rocha de arenito extremamente dura e que vai levar meses a ser todo preparado em laboratório. Cada semana de recolha no campo implica alguns meses de trabalho no laboratório, pelo que o museu lourinhanense está a apelar a todos os interessados e curiosos para se inscreverem como voluntários no museu para ajudarem a escavar este dinossauro no laboratório.
Juntamente com as ossadas foram recolhidos cerca de 200 gastrólitos, seixos que os dinossaura engoliam e que auxiliavam a trituração dos alimentos dentro de estômago.
A temporada de escavações deste ano, que se deu em Agosto, prolongando-se até dia sete de Setembro, conta com a orientação do paleontólogo Octávio Mateus, especialista em dinossauros do Museu da Lourinhã e Universidade Nova de Lisboa, e a participação de uma trintena de voluntários nacionais e estrangeiros. Além de alunos de várias universidades portuguesas a equipa de escavação conta ainda com a presença de voluntários de Inglaterra, França, Canadá e Venezuela.
Estes achados datam do Jurássico superior, cerca de 150 milhões de anos.
As escavações tiveram o apoio da Câmara Municipal da Lourinhã e de Valinhas Seguros.