Opinião de Octávio Mateus omateus@museulourinha.org
Os fósseis de animais e plantas são essenciais para se compreender a evolução das espécies pois são a principal prova da existência de seres já desaparecidos e contribuem para a percepção da idade da Terra, das suas mudanças ao longo do tempo e da evolução da Vida. Em última análise, os fósseis são o principal indicador do que todos nós, humanos, somos na realidade: elementos da evolução biológica ao longo dos milhões de anos que nos precederam.
Há muito que os fósseis nos chamam a atenção. Há registos da relação entre o Homem e objectos fósseis que remontam ao Neolítico. Este interesse não escapa ao comércio e capitalismo, tão ubíquo na nossa sociedade. Contudo, os fósseis são um recurso essencialmente científico e não renovável. A venda de fósseis tem vindo a contribuir para a sobre-exploração de jazidas e para a percepção de valores sobrestimados dos fósseis. Para piorar o cenário, o comércio de fósseis é muitas vezes associado à venda de conchas e corais que incentiva o mercado a retirar da natureza e matar milhares de moluscos, equinodermes, corais e outros animais.
A larga maioria dos vendedores de fósseis e dos coleccionadores privados não registam devidamente a localidade e idade dos fósseis retirando-os do seu contexto geológico e transformando-os num produto visualmente atractivo mas sem valor científico. É um conhecimento científico que se perde para todo o sempre. Infelizmente, a recolha de fósseis para fins comerciais tem promovido para o aumento do desaparecimento dos fósseis nas jazidas em Portugal, até mesmo de fósseis outrora comuns.
Podemos pensar que é inofensiva a recolha dos fósseis ou conchas alegadamente mais comuns e na maior parte das vezes sem verdadeiro interesse científico, mas esses objectos são muitas vezes o despoletar de grandes colecções privadas que se tornam as principais consumidoras deste tipo de objectos naturais.
Embora discutível, é legítimo o interesse financeiro que empresas privadas em lucrar com a venda de fósseis. Contudo, as instituições públicas ou de interesse público como os museus e academias precipitam-se numa questão ética ao promoverem uma actividade que sabem ser prejudicial à Ciência. A maioria dos museus de História Natural em Portugal acabam por vender fósseis, conchas e corais através das suas lojas de vendas e de feiras temáticas de fósseis. Mas o lucro imediato que os museus eventualmente obtém pela venda dos fósseis é pequeno se compararmos com o prejuízo que causam através da promoção que fazem a uma área de comércio altamente lesiva à Paleontologia.
Como é que uma academia pode alegar a protecção dos fósseis ao mesmo tempo que organiza Feiras de Fósseis e Minerais nas suas próprias instalações e com o objectivo de recolher o lucro imediato? Como é que museus de história natural podem alegar a protecção da vida selvagem ao venderem conchas e corais?
sexta-feira, agosto 05, 2005
A VENDA DE FÓSSEIS NO SERVIÇO PÚBLICO
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comércio
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1 comentário:
para mim é só letra,querem os fosseis a custo zero,para ganharem-no todo.
tudo se paga,não venham cá com historias,parecem do governo(é tudo para nos). se forem a um museu paga-se para ver os fosseis ou outro tipo de peças raras como ossos de dinossauros,e isso já pode ser para fins lucrativos,e ninguém diz nada,pois é? sem mais comentários,
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