sexta-feira, agosto 05, 2005

O PAPEL DOS MUSEUS NA SOCIEDADE

Opinião de Octávio Mateus omateus@museulourinha.org


Qual é o papel dos museus na sociedade actual? Felizmente, está longe o tempo em que os museus eram apenas “gabinetes de curiosidades”, depositários de objectos de interesse científico ou cultural. Actualmente, a tendência mudou, mas parece que ainda há museus que não entraram no século XXI, seja por falta de financiamento ou por inércia de quem os dirige. É sempre mais fácil dizer “não temos dinheiro” do que realmente saber como resolver os problemas e dar a volta por cima.

Em Portugal, a maioria dos museus científicos em Portugal tem sido mal tratados ao longo das décadas, mas também se têm esquecido de um dos objectivos principais: investigação. O Museu científico cresce se houver alguém que os faça crescer em termos de investigação. É possível fazer investigação sem investigadores? Claro que não, mas a própria clausura de alguns museus (que se encostam a um rendimento público aparentemente estável) muitas vezes também não facilita a vinda de investigadores ou estagiários. O objectivo não é só mostrar o que têm, mas ensinar e promover o ramo da museologia que praticam. Urge repensar a carreira académica não só a partir das universidades e institutos mas também através dos museus.

Existe, obviamente, uma larga diversidade de modelos institucionais e funcionais de gestão de museus: estatuais, municipais, associativos, empresariais, fundações, universitários, etc. Cada um destes modelos tem a sua lógica histórica e organizativa. É óbvio que os museus requerem financiamento e que prestam um serviço público na conservação, investigação e divulgação do património. Além disso, há temáticas museológicas menos atractivas e aliciantes para o público geral e com dificuldade em obter uma política de atracção de um número rentável de visitantes e de sensibilização de apoios privados.

O estado deve apoiar o que é de interesse público mas é sobretudo obrigação do Museu ter a imaginação para conseguir encontrar um modelo de financiamento que garanta, pelo menos, um terço do seu financiamento. Só assim e com uma dinâmica de atracção do público, é que um museu poderá verdadeiramente cumprir o seu objectivo primordial de divulgação de uma temática e de contribuir para a dinamização da sociedade. Só um museu aberto para a sociedade é que cumpre verdadeiramente a sua missão mais nobre. Por outro lado, museus inteiramente privados podem cair na tentação de alienar do país ou do acesso público, um património que é do interesse de todos, ou serem tentados a não conservar o património menos atractivo, mas igualmente importante, apenas porque não é comercialmente viável. São tentações legítimas mas que terão de ter saber controlar.

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