domingo, março 05, 2023

O que os crocodilianos do Cretáceo sentiram?

Quando pensamos em fósseis de dinossauros, o que geralmente vem à mente são ossos ou pontas grandes e espetaculares. Muito raramente pensaríamos em fragmentos pequenos ou isolados, embora representem a grande maioria dos achados paleontológicos. Além disso, às vezes, a partir desses espécimes não tão espetaculares, os paleontólogos podem encontrar pistas imprevistas para a compreensão de organismos antigos.



É exactamente o caso de um pequeno fragmento de mandíbula pertencente a um driossauro, um pequeno dinossauro herbívoro encontrado nos leitos do Jurássico Superior de Portugal, no concelho da Lourinhã. O pequeno exemplar, alojado no Museu da Lourinhã, foi investigado com raios X para reconstruir a sua microanatomia interna por investigadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da NOVA e do grupo Aragosaurus da Universidade de Saragoça. Para obter o melhor resultado possível, a equipa de investigação solicitou a ajuda das instalações do CENIEH em Burgos, especialista em técnicas de raios X aplicadas à paleontologia.

Os resultados indicam um sistema neurovascular muito denso, conectado a dentes grandes e bem desenvolvidos. “Sabemos que os iguanodontianos desenvolveram elevadas taxas de substituição dentária”, disse Filippo Maria Rotatori, autor principal e estudante de doutoramento na Universidade NOVA de Lisboa, “e comparativamente a outros dinossauros, percebemos que nenhum outro grupo apresenta uma estrutura neurovascular tão densa. “Portanto, concluímos que as taxas de substituição e a densidade do sistema vascular podem estar relacionadas”.

No entanto, isso foi apenas o começo. Na verdade, os pesquisadores observaram mais de perto os parentes vivos mais próximos dos dinossauros, crocodilos e pássaros. Eles descobriram que o seu sistema vascular rostral é essencial para manter um estado fisiológico ideal. “Acreditamos que um sistema vascular tão desenvolvido neste espécime pode ser um indicador do aumento das taxas metabólicas neste grupo de dinossauros” – continuou Filippo – “Embora ainda seja cedo para tirar conclusões tão ousadas, pois precisamos de muito mais dados para corroborar esta hipótese.”

A referência completa é:

Puértolas-Pascual, E., Kuzmin, I. T., Serrano-Martínez, A., & Mateus, O. (2023). Neuroanatomy of the crocodylomorph Portugalosuchus azenhae from the late cretaceous of Portugal. Journal of Anatomy. https://doi.org/10.1111/joa.13836

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