sexta-feira, janeiro 24, 2014

Sobre as bolsas FCT em Geociências

O recente concurso a bolsas de Doutoramento e Pós-Doutoramento da FCT tem sido alvo de muitas críticas. 
A área das Geociências recebeu 41 candidaturas, só sendo admitidas cinco bolsas o que parece algo manifestamente insuficiente para uma área científica como esta.

O processo da atribuição das bolsas nas Geociências é também agora alvo de notícias, que a TSF avançou hoje:
"Na área das Geociências, um dos avaliadores demitiu-se (no fim de novembro) a meio do processo, já depois de várias reuniões entre os membros do júri. À TSF, Rui Pena dos Reis, professor catedrático do Departamento de Ciências da Terra de Coimbra, explica que o coordenador, com o acordo da FCT, alterou, a meio do jogo, alguns critérios de avaliação definidos de início e que orientaram os candidatos. Do outro lado, o coordenador do painel de avaliação da área das Geociências, Fernando Ornelas, nega qualquer irregularidade e garante apenas cumprir as regras do FCT." (TSF, 24.1.2014)

O júri para o painel de Geociências foi assim composto por:
Fernando Manuel Ornelas Guerreiro Marques (coordenador; da Univ. Lisboa)
Ana Paula Ribeiro Ramos Pereira (Univ. Lisboa)
Fernando Monteiro Santos (Univ. Lisboa)  
Alfredo Rocha (Univ. Aveiro)
Ana Maria Guedes Almeida e Silva (Univ. Évora)
Fátima Abrantes (LNEG)
Fernando Manuel Pereira de Noronha (Univ. Porto)

Seria bom que houvesse mais transparência para sabermos para onde segue cada bolsa atribuída. A julgar pelos currículos online dos candidatos, quatro bolsas das cinco atribuídas parecem ser candidatos da mesma universidade, assim como nove dos onze primeiros classificados.

Parece haver, por isso, uma disparidade que merece ser assinalada, sobretudo porque a instituição mais beneficiada é a mesma do coordenador e de três dos sete membros do painel de avaliação em Geociências. Não está em causa a integridade de júri, mas como diz o provérbio, "À mulher de César não basta sê-lo. Tem de parecê-lo!" e teria sido bom que a distribuição fosse mais nacional e sem favorecer a instituição mais representada no júri.
Esta mesmo universidade já tem um programa doutoral da qual irá beneficiar de 32 bolsas de doutoramento (distribuídas por 4 anos). O resultado final faz com que uma única universidade receba todas as bolsas em Geociências, excepto uma. Esta estratégia parece desadequada numa área científica com um forte cariz local, e que vem marcar uma tendência de favorecer o gigantismo das universidades e dificultar as demais.

Ver também o post seguinte Ainda sobre as bolsas fct em geociências

O concurso tem critérios alegadamente muito objectivos e determinados de forma matemática. Os orientadores também são classificados pelo seu CV. No meu caso pessoal, a minha classificação era diferente para dois candidatos distintos, o que mostra que há espaço para a subjectividade.

Sobre o desinvestimento na Ciência
O Ministro da Educação e Ciência apenas continua a afirmar que não há desinvestimento na Ciência, mas Portugal ainda está bem abaixo da média europeia no investimento em I&D por percentagem do PIB: 1,5%  contra 2,07% da média europeia.

Investimento em I&D por percentagem do PIB. Média europeia: 2,07% ; Portugal: 1,5% do PIB. Fonte: Eurostat Pordata.
    Para dificultar ainda mais, recentemente, um ministro veio a público manifestar-se contra as bolsas científicas longe da vida real. Nós, cientistas, também estamos contra os políticos que estão longe da vida real. A investigação fundamental ("longe da vida real") é a mesma que permite os grandes passos científicos, e Portugal não se pode dar ao luxo de não apostar na investigação científica e educação dos Portugueses.

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