quinta-feira, abril 04, 2013

Quatro novas espécies fósseis de baleias-de-bico descobertas no Atlântico



Uma equipa internacional de investigadores, constituída por Giovanni Bianucci (Università di Pisa, Itália), Miján Ismael (Sociedade Galega de Historia Natural, Espanha), Olivier Lambert (Institut Royal des Sciences
Naturelles, Bélgica), Post Klaas (Natuurhistorisch Museum Rotterdam, Holanda) e Octávio Mateus (Museu da Lourinhã, Portugal), acaba de publicar importantes achados na Geodiversitas, revista científica
especializada em Paleontologia. Durante os últimos cinco anos, a equipa estudou fósseis de cetáceos
recuperados, durante a pesca por arrasto, a profundidades que variam entre 500 e 1500 metros, e descreveu quatro novas espécies de baleias-de-bico que viveram em águas atlânticas próximas da Península
Ibérica, provavelmente, entre 20 e 14 milhões de anos atrás, durante o Miocénico.
Pescadores doaram aqueles exemplares ao Museu da Sociedade Galega de História Natural (SGHN) e ao Museu da Lourinhã, para que o seu estudo pudesse ser realizado.



Esta descoberta é uma das mais importantes, a nível mundial, dada a sua repercussão no conhecimento da
biologia evolutiva dos cetáceos, à qual se têm dedicado vários cientistas, tal é a relevância deste tema na
Paleontologia. Em 2007, Ismael Miján publicou um relatório preliminar sobre dois crânios doados à SGHN que foram o ponto de partida para a investigação. Durante os últimos cinco anos, a equipa conseguiu examinar mais de 40 crânios pertencentes a coleções oficiais (guardados e, em muitos casos, esquecidos, a maioria deles estão na SGHN e na Lourinhã, cujas coleções de fósseis de baleias-de-bico estão entre as mais importantes do mundo), assim como cerca de uma centena de espécimes de coleções não oficiais, muitas delas correspondentes a espécies desconhecidas para a ciência.
As quatro espécies foram agora designadas como Choneziphius leidyi, Tusciziphius atlanticus, Imocetus
piscatus e Globicetus hiberus. Têm características anatómicas únicas, nunca antes encontradas noutras
espécies de cetáceos, e apresentam claro dimorfismo sexual (diferenças entre machos e fêmeas) nas estruturas ósseas. O Globicetus hiberus, por exemplo, tem na parte frontal do crânio uma grande esfera de muito elevada densidade óssea e de grandes proporções que serviria de proteção contra golpes de cabeça infligidos durante os combates entre machos e, além disso, poderia desempenhar um papel peculiar no seu sistema bioacústico (sonar natural) desconhecido até ao momento.
Dois destes géneros tinham sido já encontrados em costas europeias e na costa leste dos Estados Unidos,
evidenciando que as baleias-de-bico estiveram amplamente distribuídas no Atlântico Norte durante o
Neogénico. Mas, surpreendentemente, nenhum destes zifídeos ibéricos foi encontrado na África do Sul (onde alguns dos investigadores da equipa estudaram uma grande coleção de fósseis de baleias-de-bico) e isso poderia sugerir que as águas quentes equatoriais terão funcionado como barreira natural, separando as duas populações de baleias-de-bico, as de águas frias e as de águas temperadas.
As instituições envolvidas na pesquisa, e especialmente a SGHN e o GEAL – Museu da Lourinhã, valorizam a colaboração dos pescadores que doaram os espécimes, uma atitude generosa e indispensável para a realização do estudo.



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