terça-feira, abril 06, 2010

Porque não faz sentido usarmos os escalões Lineanos de filo, classe, ordem, etc


Quando o ilustre sueco Carl von Linné (ou Carolous Linnaeus, em latim, tal como ele assinava, ou Carlos Lineu, em português) classificou os organismos vivos, agrupou-as em ‘rankings’ ou escalões, que tendo sido ulteriormente adicionados ficaram com a clássica sequência Divisão, Reino, Filo, Classe, Ordem, Família, Género e Espécies.

Esta partimentação agrupa os seres vivos do mais abrangente até a uma única espécie. Assim, a Divisão pode ter vários Reinos, que por sua abrange vários Filos, que contêm várias Classes e assim por diante.

É um sistema prático e de alguma forma inspirado na hierarquia militar. Neste sistema, todas as espécies são arrumadas de forma que nenhuma esteja de fora da sequência Divisão, Reino, Filo, Classe, etc. Dito de outra forma, todas as espécies pertencem a um género, que está enquadrado numa família, que não pode deixar de estar numa ordem, até que todos os escalões estão preenchidos.

É, sem dúvida, um sistema fácil e prático, como se coordenadas de um endereço se tratasse. Era como se arrumássemos as espécies em gavetas, que estão contidas em estantes, que por sua vez estão em armários, em salas, casa, ruas, bairros, etc. Prático e simples… contudo a Natureza não funciona assim, sendo a realidade bem mais complexa. Linné usou esta classificação pois não conhecia a evolução das espécies (conceito que foi avançado após a sua morte por Lammarck e outros, e melhor compreendido e explicado por C. Darwin). Se Linné compreendesse a evolução, decerto que saberia que não podemos agrupar os organismos em secções discretas, como se de objectos físicos se tratassem devidamente arrumadas no sistema de gavetas, prateleiras, armários, etc.

As espécies são contínuas, e todos os organismos actuais fazem parte de uma corrente reprodutiva de pais para filhos, desde há 3.600 milhões de anos, sempre com pequenas alterações graduais e contínuas. Se reconstruirmos a linhagem de todas as espécies, vamos ter algo mais parecido a uma árvore, em que cada espécie é uma folha ou uma célula, do que a um armário (usando a analogia das gavetas).

Ao tentar estabelecer as relações de parentesco das espécies os biólogos constroem árvores filogenéticas comparáveis às árvores genealógicas que mostram o parentesco dos nossos familiares. Numa árvore ou arbusto, as folhas encontram-se em galhos, raminhos, ramos, pernadas, troncos secundários e troncos principais, mas se tentarmos agrupar cada folha de um arbusto num ‘ranking’ Lineano, veremos que estamos perante uma tarefa hercúlea, difícil de alcançar.

Vejamos num exemplo concreto: os vertebrados. A classificação clássica (não evolutiva) agrupa-os em cinco classes: os peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos. Contudo sabemos agora que as aves são descendentes dos dinossauros, que por sua vez são répteis (ou seja, pertencem ao grupo Reptilia), logo, as aves são répteis. Algo que faz sentido se agruparmos os animais numa árvore, na qual o "ramo" das aves é agrupado no "tronco" dos répteis, e esquecemos as categorias filo, classe, ordem, etc. De outra forma, temos uma 'classe' (Aves) dentro de outra 'classe' (Reptilia), que usando a analogia atrás, seria arrumar uma gaveta dentro de outra gaveta. É algo que não existe.

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