sexta-feira, novembro 28, 2008

O que nos dizem os fósseis sobre evolução? O exemplo dos dinossauros

A paleontologia é a ciência que estuda os fósseis e os seres extintos. Os fósseis dão-nos um fabuloso manancial de informação sobre a evolução, e são das melhores evidências dos vários grupos de animais e plantas que têm habitado no nosso planeta desde há, pelos menos, 3000 milhões de anos.

Os fósseis contam a história de cada estádio evolutivo que os animais passaram até terem a forma que possuem hoje.

Por exemplo, como se deu a evolução das aves? Originaram a partir de que tipos de animais? Estudos e descobertas desde o tempo de Darwin mostram claramente que as aves evoluíram a partir de répteis, mais concretamente de dinossauros carnívoros, os terópodes. Este grupo de predadores inclui o Allosaurus, o Tyrannosaurus rex, e o Velociraptor. Era precisamente terópodes como este último que tinham uma série de características corporais que permitiram às aves levantar voo. Por exemplo, tinham o corpo coberto de pe

nas, ossos ocos e leves, músculos e ossos peitorais que permitiam força e mobilidade dos braços para movimentos precursores ao voo. Mas contrariamente à maioria das aves actuais, os Velociraptor e os seus “parentes” ainda possuíam dentes, cauda e garras nas mãos.


Fósseis como o Archaeopteryx, com 150 milhões de anos, mostram fases de morfologia intermédia entre dinossauros carnívoros, tipicamente reptilianos e as aves actuais, pois tinham asas bem desenvolvidas que permitiam voar, mas ainda possuíam cauda óssea, dentes e garras nas asas. Todas as aves modernas descenderam de dinossauros semelhantes ao Microraptor, e ao Archaeopteryx, por isso, em rigor podemos afirmar que os dinossauros nunca se extinguiram. Apenas evoluíram até ao que conhecemos hoje como aves. Portanto, do ponto de vista da classificação das espécies, todas as aves são dinossauros.

Existe, portanto uma transição entre o grupo dos dinossauros e as aves? Não! Tal como não podemos dizer que existe uma transição entre os canídeos e o cão, entre os mamíferos e os cetáceos, entre os primatas e o humano, porque comparamos um todo e a sua parte. As aves são dinossauros assim como os cães são canídeos, os cetáceos são mamíferos e nós somos primatas.

Por outro lado, em rigor, cada fóssil é uma forma de transição entre uma morfologia mais primitiva, seu ancestral, e outra mais derivada, seu descendente. Ou seja os fósseis de são formas de transição, mas não são grupos de transição.

O primeiro cientista a propor a origem das aves a partir dos dinossauros foi Thomas Huxley, um dedicado amigo de Charles Darwin e muitas vezes apelidado como o “Bulldog de Darwin” ao ter comparado um esqueleto de dois pequenos dinossauros muito semelhantes, o Compsognathus e Archaeopteryx. O segundo é uma ave… o outro ainda não. 

A mais emblemática das características é a presença de penas em, pelo menos, uma vintena de fósseis de dinossauros não-avianos e não voadores. As penas permitiam o controle de temperatura corporal mais eficaz.

A existência de dinossauros não-avianos com penas foi postulada muito antes do primeiro fóssil deste tipo ter sido descoberto, há cerca de 10 anos atrás. (Note-se que, inicialmente, o Archaeopteryx não era considerado um dinossauro, mas sim uma ave; esse, já descoberto no séc. XIX.) Tal previsão só foi possível à luz da evolução darwiniana, sendo actualmente suportada pelas fortes evidências fósseis. Esta e outras previsões (úteis para testar hipóteses na paleontologia) não podem ser explicadas por nenhuma teoria não evolucionista alternativa. Esta questão tem sido esquecida por criacionistas, seja de forma honesta, por ignorância, ou de forma estratégica e deliberada. A capacidade de previsão da ciência, e em particular da teoria da evolução, não só lhe dá força, como demonstra adequação ao mundo natural.

Os fósseis têm ainda um óptimo poder de fascínio entre jovens estudantes e são um eficaz instrumento para ensinar e aprender evolução. Os fósseis de dinossauros, por exemplo, cativam atenções e despoletam imaginações. Portugal é muito rico em vestígios de dinossauros. Apesar na sua área, o país está entre os que possuem mais géneros e espécies destes répteis mesozóicos. 

2 comentários:

João disse...

Eu até ontem também não conhecia o vosso blog. Desejo-vos sucesso pois é muito interessante e visualmente agradavel (esta cheio de imagens fascinantes que ainda são um bom argumento para se querer ver o mundo tal como ele é).

Este post alerta ainda para uma caracteristica do modelo evolutivo que tem sido negada pelos criacionistas e que é de extrema importancia. É a capacidade que a teoria tem, desde Darwin, de fazer previsões. A teoria prevê, de facto, que se vão descobrindo ao longo do tempo, cada vez mais fosseis sugestivos de evolução, transicionais. E isso tem acontecido. Uma maneira simples mas eficaz de explicar que a evolução também tem essa caracteristica enquanto teoria cientifica. Os criacionistas defendem que é uma "ciencia forense" e portanto não faz previsões, so explica o passado. É errado, como voces bem demonstram.

Simplesmente, não é preciso recorrer a experiencias com bacterias ou modelos matematicos para explicar isso (ainda que tambem seja possivel).

Ricardo Araújo disse...

A Evolução de forense tem realmente muito pouco, e de "facto" tem imenso! Por cada injecção de penicilina que se toma, por cada caçada bem sucedida de um leão, por cada novo Odontochelys que se descobre, é vê-la a funcionar! Só fecha os olhos à evidência quem quer dar uso à sua liberdade filosófica de cepticismo... mas nem por isso a realidade se torna diferente. E assim as bactérias mais resistentes vão sobrevivendo, os leões mais melhor sucedidos nas suas caçadas deixando uma maior prole, e novas tartaruagas com dentes vão sendo decobertas...