domingo, novembro 09, 2008

Berbicachos taxonómicos


Muitas vezes nomear novas espécies e géneros é mais uma arte que uma ciência, isto especiamente antes do advento da filogenia que facilita em larga escala o trabalho dos taxonomistas. No século XIX (e até mesmo uma durante parte do século XX) novas espécies e géneros eram erigidos em notas de rodapé ou em legendas de figuras e, claro, sem uma diagnose adequada. Geralmente só muito tempo depois é que este material era novamente revisto e estudado convenientemente de modo a aferir a validade destes novos taxa, muitos deles continham problemas... já num post anterior me referi ao "disparate" que era o género Steneosaurus (um crocodiliforme do clado Thalattosuchia), com mais de cinquenta espécies atribuídas a esse género. Mas especialmente no clado Dinosauria - que tem sido alvo de extensa análise nos últimos tempos - os berbicachos taxonómicos acumulam-se como nos seguintes géneros: Hadrosaurus, Titanosaurus, Triceratops... Pode ser realmente muito confuso rever a validade destes taxa, principalmente na paleontologia, com espécimes incompletos ou dispersos por vários museus e, com a agravante de que as regras do Código Internacional de Nomenclatura Zoológica não são nada fáceis. Na verdade, não é só a questão da sinonímia (espécies/géneros erigidos que afinal eram iguais a outras entretanto já erigidas também)... são também os nomen oblitum, os nomen dubium, os nomen vadum, nomen nudum, ou os nomes previamente ocupados. E ora porque nos devemos preocupar em saber se este ou aquele género baseado em determinado material está bem ou mal nomeado? É que as espécies e os géneros servem de base para estudos mais abrangentes... Como é que então se poderia fazer uma lista de todas as espécies de dinossauros, por exemplo, se na verdade uma boa percentagem de nomes dessa lista não são válidos? Como extrapolar sobre a biodiversidade de um dado grupo ou sobre as origens de um outro se não sabemos que espécies existiram realmente? Foi por isso que Mike Benton, um prestigiado paleontólogo da Universidade de Bristol, Inglaterra decidiu aferir... Em suma ele pretendia responder à seguinte pergunta: se eu quiser fazer uma lista de todos os dinossauros qual é o risco que corro de que essa lista esteja mal construída? Ele realmente chegou a conclusões interessantes, entre as quais: cerca de 50% dos nomes de dinossauros são sinónimos, uma boa porção dos taxa são baseados em material muito fragmentário (o que faz com que se possam nomear dois géneros diferentes com base em material diferente, um dente e um fémur, por exemplo... que pode na realidade pertencer a um mesmo género), a descoberta de novos taxa está geralmente associada à exploração de novas bacias. E uma série de outras cnclusões de elevada importância. O melhor mesmo é consultar o artigo, aqui fica a referência:

Benton, M. J. 2008 How to find a dinosaur, and the role of synonymy in biodiversity studies. Paleobiology 34(4): 516-533.

Se não tiverem acesso ao artigo eu posso, como é claro, disponibilizá-lo.

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