Publicava-se em Inglaterra a mais fascinante obra da ciência de sempre.
Continuo sem perceber como é que não é de leitura obrigatória em todos os cursos de Biologia, não sei como é lá fora, mas choca-me encontrar colegas que se consideram biólogos sem nunca terem lido uma só linha da Origem.
Não tenho pejo nenhum em dizê-lo.
Com o título: On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life, foi mais que um golpe de génio, foi o resultado do trabalho de um cientista reservado e muito pouco dado a aventuras. Essa é uma das características que mais me espanta na personalidade de Darwin a sua modéstia quase a roçar a falta de coragem onde prevalecia uma resistência gigante às mudanças bruscas e, ao mesmo tempo, é nesta mente que germina e nasce talvez a maior mudança de paradigma da humanidade: A teoria da Evolução por selecção natural.
Ele coloca a Biologia de pernas para o ar, como deve estar, iluminando um mundo que assim teria uma matriz puramente empírica para o explicar.
Como é belo ver o Homem pensar sobre o mundo e, sem desculpas fáceis e demasiadas vezes falsas, explicar e compreender o que está fora dele. O Homem pode muitas vezes bastar-se a si próprio, sentimo-nos grandes quando isto acontece. Darwin observou, compilou e integrou uma montanha de factos para chegar às conclusões que expôs na Origem das Espécies.
Muitas vezes nos perguntamos e se não fosse ele... Bom, se não fosse ele, com certeza que viria outro, lembremo-nos que Wallace chegou a conclusões quase idênticas de uma forma completamente independente. Seria outro a descobrir os mesmo processos, mas o espantoso não é que pudesse ter sido outro, o mais espantoso é que não tenha sido outro!
Sempre foi um candidato quase impossível. Não corresponde a nenhum dos nossos estereótipos de cientista genial, nem a Newton, nem a Einstein, nem a Galileu, nem a Humboldt ou Lineu e muito menos a Aristóteles ou Leonardo. Nada disto, Darwin é o mais modesto e acanhado de todos, um banal cidadão Britânico em meados do século XIX. Competente, trabalhador, bem integrado e bem relacionado. Nada mais que isso. E foi até isso que mais deve ter chocado a sociedade Britânica na altura. Que um deles, um entre iguais, estivesse a dizer e a provar que mais não somos que feitos da mesma massa que todos os outros povos e culturas, temos a mesma origem: somos os mesmos. Foi um vulgar que revolucionou o mundo e a forma de nos vermos a nós mesmos.
Não somos mais que todos os outros animais e plantas, todos descendemos da terra, a mãe Terra. Tomos somos irmãos e não há povos nem gentes superiores, nem em géneros nem em cores nem em espécies, todos evoluímos em conjunto e foi essa mesma dança que produziu e continua a produzir tantas e tão diversas formas de vida.
Darwin revelou a uma amigo em 1954 que expor a sua Teria da Evolução era "like confessing a murder". Esta expressão seria impensável na boca de qualquer outro revolucionário nas ciências. Darwin é, também ele, um de nós, um entre iguais. Foi um génio, mas bem mais próximo de nós do que dos excêntricos e incompreensíveis vultos da Física, da Matemática, da Química ou de todas as outras artes dos espectáculo.
Publicado simultaneamente no Conjurado
terça-feira, novembro 25, 2008
149 anos e um dia
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