segunda-feira, fevereiro 27, 2017

Osteologia de lagartos europeus


Saiu um novo trabalho liderado por Andrea Villa que se debruça sobre osteologia, registo fóssil e paleobiodiversidade de lagartos europeus. 
O estudo  publicado na revista Amphibia-Reptilia e que também contou com a participação do nosso colaborador Emanuel Tschopp confirma, com dados osteológicos, a monofilia do género Lacerta que, em Portugal, inclui o lagarto-de-água Lacerta schreiberi. O sardão, previamente denominado Lacerta lepida, é o outgroup, e com o nome Timon lepidus.
"Lacertilia", desenhado por Ernst Haeckel
publicado no Kunstformen 
der Natur, 1904

Abstract. The capability of palaeontologists to identify fossil remains of a particular group of vertebrates strongly depends on the knowledge they have of its comparative osteology and on the actual presence of diagnostic differences among the considered taxa. This could have a relevant influence on the study of palaeodiversity, since a low recognisability causes a loss of data when trying to reconstruct the history of taxa that lived on Earth in the past. Currently, more than 6000 extant species of lizards and worm lizards are known, and new ones continue to be discovered, mainly based on molecular data. But are we able to recognise this high diversity using osteology? As far as European taxa are concerned, the osteological recognisability of non-snake squamates is very low: only 31% of the extant European taxa can be identified based on their skeletal morphology.
This is balanced partially by the fact that most recognisable taxa have been actually recognised in the fossil record, suggesting that the lost data are mainly due to the scarce knowledge of the comparative osteology of these reptiles and less influenced by other biases, such as taphonomic or collection biases. In this context, specimen-level phylogenetic analysis has proved to be a useful tool to identify diagnostic combinations of osteological features, at least for lacertid species, as evidenced by a case study focused on the genus Lacerta.

Filogenia do género Lacerta (Villa et al., 2017)

Villa, A., Tschopp, E., Georgalis, G.L. and Delfino, M., 2017. Osteology, fossil record and palaeodiversity of the European lizards. Amphibia-Reptilia38(1), pp.79-88. PDF
http://booksandjournals.brillonline.com/content/journals/10.1163/15685381-00003085 



Sobre uma panorâmica de um ecossistema do Cretácico Inferior de Espanha num novo artigo


Imagens do artigo por Gasca et al. (2017)
O estudo agora publicado na revista Palaeo3 por uma equipa de investigadores de Portugal, Espanha, Argentina e da Alemanha, da qual faz parte Miguel Moreno-Azanza, investigador da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT NOVA) e colaborador do Museu da Lourinhã, revela a preservação de diferentes tipos de dinossauros e outros restos fósseis de vertebrados (ossos, cascas de ovo e pegadas) do Barremiano (Cretácico Inferior) da Formação de Mirambel (Bacia do Maestrazgo, Cadeia Ibérica, NE de Espanha).
Só dentro desta unidade, na área de Ladruñán, na província de Teruel, foram reconhecidos 31 locais contendo fósseis de variados vertebrados e trilhos de dinossauros.

O registro de dinossauros identificado inclui ornitópodes, terópodes e saurópodes; os trilhos permitem concluir que estes frequentavam zonas costeiras de lagos, planícies aluviais e cursos fluviais. Os fragmentos de cascas de ovos são frequentes em toda a unidade, mas são claramente mais comuns em depósitos lacustres. 



O resumo, em inglês, é o seguinte:
The Barremian Mirambel Formation (Maestrazgo Basin, Iberian Chain, NE Spain) preserves different types of dinosaur and other vertebrate fossils (skeletal, eggshell and ichnological remains). A total of 31 vertebrate fossil sites and tracksites have been recognized within this unit in the Ladruñán area (Teruel province). Detailed stratigraphic, sedimentological and micropalaeontological analyses have also been performed in the unit. A vertical sedimentary trend from alluvial-dominated facies (meandering river and related overbank areas) to palustrine-lacustrine facies and back has been defined for the Mirambel Formation in this area. The depositional system was located close to the coastline, as indicated by sporadic marine input in the lower part of the unit.
Most fossil remains were recovered by surface collection as well as by the usual techniques used for macrovertebrate excavations. The dinosaur record identified comprises ornithopods, theropods and sauropods. Four distinct track-bearing horizons have been identified. The heterolithic nature and aggradation characteristic of the Mirambel Formation are favourable factors for track formation and preservation. The dinosaur tracks consist of convex hyporeliefs or concave epireliefs that record the trackmakers as they frequented lakeshores, alluvial floodplains and fluvial courses. Macrovertebrate bonebeds occur in alluvial settings (poorly-drained floodplains and “ponds”). Microvertebrate concentrations are located in shallow lacustrine deposits. Isolated skeletal elements can be found in a great variety of deposits. Attritional accumulation in a low-energy depositional context is the general pattern of origin for the bone-bearing fossil sites of the Mirambel Formation. As regards the genetic framework, the resulting skeletal assemblages are predominantly the result of physical factors, with sedimentology as a key factor, rather than biological phenomena. Eggshell fragments are frequent throughout the unit but are clearly more common in palustrine-lacustrine deposits. These can be taken to be parautochthonous bioclasts from nearby areas and might be indicative of the preferential affinity of the egg-layers for wetlands and lakeshores.


A referência completa do artigo é:
Gasca, J. M., Moreno-Azanza, M., Bádenas, B., Díaz-Martínez, I., Castanera, D. , Canudo, J. I., Aurell, M. 2017. Integrated overview of the vertebrate fossil record of the Ladruñán anticline (Spain): Evidence of a Barremian alluvial-lacustrine system in NE Iberia frequented by dinosaursPalaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology, Volume 472: 192-202 

XV Encontro de Jovens Investigadores em Paleontologia


O EJIP, Encontro de Jovens Investigadores em Paleontologia, é um congresso anual dirigido por jovens paleontólogos para jovens paleontólogos que visa a promoção da colaboração entre investigadores e instituições com o intuito de criar sinergias que desenvolvam todo o potencial da sua investigação.
Este ano, já na sua XV edição, o EJIP realizar-se-á em Pombal (Portugal), entre os dias 19 e 22 de Abril. 


O programa científico inclui duas das saídas de campo. Uma delas, dedicada ao Mesozóico da Bacia Lusitaniana, terá enfoque na diversidade dos invertebrados e vertebrados presentes nos ambientes marinhos e de transição do Jurássico Médio e dos ambientes continentais do Jurássico Superior, nos trilhos de dinossauros da Pedreira do Galinha e nas descobertas feitas na Jazida de Andrés (conhecida  pela descoberta do dinossauro terópode Allosaurus fragilis). A outra visita terá o principal foco no Ordovício da região de Buçaco e será direccionada para alterações na diversidade e composição das comunidades bentónicas desde o Ordovícico Superior até à grande extinção finiordovícica. 



Mais informações, programa e inscrições em:http://xvejip-pombal.blogspot.pt/p/que-es-ejip.html

quinta-feira, fevereiro 16, 2017

Pegadas de dinossauros e mamíferos em Angola


No artigo publicado na revista Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology são apresentadas pegadas de mamíferos, de crocodilomorfos e dinossauros saurópodes do Cretácico inferior de África. As pegadas provêem da mina de diamante da Catoca, na Lunda Sul, em Angola. Os trilhos de mamíferos têm uma morfologia única, atribuída a Catocapes angolanus ichnogen. et ichnosp. Nov. As pegadas com comprimento médio de 2,7 cm e largura de 3,2 cm são as maiores de mamíferos conhecidas do Cretácico Inferior, não existindo do mesmo tamanho no registro fóssil de ossos. As pistas de crocodilomorfos são atribuídas a Angolaichnus adamanticus ichnogen. et ichnosp. nov. Uma pista de dinossauro saurópode de tamanho médio preservou impressões de pele de um animal com uma passada de 1,6 m.



Este trabalho do Projecto PaleoAngola foi assinado por Octávio Mateus, Marco Marzola, Anne S. Schulp, Louis L. Jacobs, Michael J. Polcyn, Vladimir Pervov, António Olímpio Gonçalves, e Maria Luisa Morais.

Referência completa:

Mateus, O., Marzola, M., Schulp, A.S., Jacobs, L.L., Polcyn, M.J., Pervov, V., Gonçalves, A.O. and Morais, M.L., 2017. Angolan ichnosite in a diamond mine shows the presence of a large terrestrial mammaliamorph, a crocodylomorph, and sauropod dinosaurs in the Early Cretaceous of Africa. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology.

Journal of Paleontological Techniques tem novo site

A nossa revista científica Journal of Paleontological Techniques tem novo site como revista online de acesso livre no ScienceOpen.
Esta revista de revisão pelos pares do GEAL - Museu da Lourinhã tem como editor principal Emanuel Tschopp e visa abordar métodos e técnicas em Paleontologia.

https://www.scienceopen.com/search#collection/27432d4b-0e8d-4b43-9caa-fec681ae47ed


I Congresso sobre Planalto das Cesaredas

Decorrerá este ano, entre 31 de Março e 2 de Abril, na Lourinhã (Portugal) o I Congresso sobre o Planalto das Cesaredas.

De organização conjunta entre a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e a Associação dos Amigos do Planalto das Cesaredas, o congresso visa promover o conhecimento científico, nas suas diversas vertentes - Geologia, Geomorfologia, Arqueologia, Espeleologia, Fauna, Flora, Património e Cultura - desta região que abrange os municípios da Lourinhã, Peniche, Bombarral e Óbidos.


Mais informações em:

http://www.dct.fct.unl.pt/congresso-cesaredas
http://www.aaplanaltocesaredas.pt/

Knoetschkesuchus guimarotae é o novo nome do pequeno crocodilomorfo de Portugal

Knoetschkesuchus langenbergensis (Foto: OM)
Da jazida de Oker, Langenberg, na Baixa Saxonia, a norte da Alemanha, foi descrito o pequeno, mas adulto, crocodilomorfo Knoetschkesuchus langenbergensis Schwarz et al 2017 muito próximo do Theriosuchus.

Este atoposaurídeo do Jurássico Superior vem da mesma jazida do saurópode Europasaurus holgeri.

Em Portugal era conhecido o Theriosuchus guimarotae, que agora se verifica ser muito próximo de Klangenbergensis pelo que o trabalho de Daniela Schwarz e colegas permite fazer uma nova combinação taxonómica: Knoetschkesuchus guimarotae para o material português.


Nils Knötschke (foto:OM)


O nome é dedicado a Nils Knötschke do DinoPark de Münchehagen.


Schwarz D, Raddatz M, Wings O (2017) Knoetschkesuchus langenbergensis gen. nov. sp. nov., a new atoposaurid crocodyliform from the Upper Jurassic Langenberg Quarry (Lower Saxony, northwestern Germany), and its relationships to Theriosuchus. PLoS ONE 12(2): e0160617. doi:10.1371/journal.pone.0160617

Comparação entre Knoetschkesuchus langenbergensis da Alemanha K.guimarotae de Portugal (Schwarz et al 2017)

Novo dinossauro encontrado com conteúdo estomacal preservado

Miguel Moreno-Azanza, investigador da FCT – Universidade Nova de Lisboa e colaborador do Museu da Lourinhã, integra uma equipa multi-disciplinar de investigadores de Saragoça (Espanha) e Portugal, que descreve agora um novo dinossauro encontrado com conteúdo estomacal preservado

O estudo hoje publicado na revista Scientific Reports descreve o novo dinossauro ornitísquio, Isaberrysaura mollensis gen. et sp. nov., no Jurássico de Neuquén, na Argentina. A pesquisa multidisciplinar, liderada pelo Professor Leonardo Salgado, foi realizada por paleontólogos da Universidade de Río Negro-Conicet, Universidade da Prata, Museu Olsacher de Zapala e Museu de Huincul (Argentina) e da Universidade de Saragoça (Espanha), contando com a colaboração de Miguel Moreno-Azanza, pós-doutorado no Departamento de Ciências da Terra da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, bolseiro da Fundação para a Ciência e Tecnologia e membro no grupo de investigação GeoBioTec (FTC-UNL).

O espécime agora descrito traz importantes implicações para a evolução e paleobiologia deste grupo de dinossauros herbívoros, os ornitísquios. Em primeiro lugar, foi recuperado num ambiente marinho inesperado, apesar de ser um animal claramente terrestre, o que revela que a carcaça foi transportada da costa para ambientes marinhos profundos, onde foi encontrada juntamente com restos de répteis marinhos. Em segundo lugar, apresenta centenas de sementes mineralizadas, na área onde as entranhas estão localizadas, de pelo menos duas espécies diferentes de plantas, incluindo Cycadales. Isto evidencia que Cycas era um importante elemento da dieta destes dinossauros desde o início da evolução deste grupo e suporta estudos prévios de coevolução entre plantas e dinossauros herbívoros.
Finalmente, a posição filogenética de Isaberrysaura fornece evidências de que a linhagem que dá origem ao bem sucedido grupo de dinossauros herbívoros, os ornitópodes, ocupava já terrenos da Gonduana desde o Jurássico Inferior, redesenhando a evolução e dispersão deste grupo.

O nome atribuído, Isaberrysaura, é em homenagem a Isabel Valdibia, paleontóloga amadora argentina que encontrou os primeiros restos desses dinossauros e os doou ao Museu Olsacher de Zapala (Argentina), onde podem ser visitados a partir de hoje.


Isaberrysaura mollensis


Salgado, L., Canudo, J.I., Garrido, A.M., Moreno-Azanza, M., Martínez, L.C.A., Coria, R.M., Gasca J.M. 2017. A new primitive Neornithischian dinosaur from the Jurassic of Patagonia with gut contents. Scientific Reports,

Sobre a velocidade das ovelhas do Neolítico e o rinoceronte na corte Portuguesa


Dois trabalhos recentemente publicados sobre mamíferos chamaram-nos a atenção e têm a haver com Portugal:


As ovelhas (Ovis) chegaram a Portugal no milénio VI a.c., pois os vestígios descobertos em Lameiras, Sintra, foram datados de 5450 a.c. (Neolítico). Este artigo intitulado "A Velocidade de Ovis[...]" assinado por Simon Davis e Teresa Simões não aborda a velocidade de corrida das ovelhas mas a sua velocidade de dispersão (1.6 km por ano), vindas da Ásia até Portugal. O artigo também ajuda a distinguir ossos de cabra e ovelha.


Davis, S. and Simões, T., 2016. The velocity of Ovis in prehistoric times: the sheep bones from early Neolithic Lameiras, Sintra, Portugal. O Neolítico em Portugal antes do Horizonte 2020: Perspectivas em debate2, pp.51-66. 
http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/25678/1/2016-Sheep-Velocity-Monografia2_AAP.pdf



Famosa ilustração do rinoceronte oferecido ao Papa por Portugal, ilustrado por A.Dürer


Juan Pimentel publicou o livro The Rhinoceros and the Megatherium que relata o famoso caso, de 1515, quando um rinoceronte indiano foi oferecido pelo rei de Portugal, Manuel I, como presente ao Papa Leão X. O rinoceronte morreu quando o barco em que era transportado naufragou, próximo a costa da Itália, a princípios de 1516.

Pimentel, Juan. The Rhinoceros and the Megatherium. Harvard University Press, 2017.

terça-feira, fevereiro 14, 2017

Três novos artigos da paleontologia portuguesa


As plantas fósseis de São Jorge, na Madeira foram alvo de um artigo científico:

Carlos A. Góis-Marques, José Madeira, and Miguel Menezes de Sequeira 2017. Inventory and review of the Mio–Pleistocene São Jorge flora (Madeira Island, Portugal): palaeoecological and biogeographical implications. Journal Of Systematic Palaeontology

Plantas fósseis de São Jorge, Madeira (Marques et al 2017)

Reporta-se um novo foraminífero,  Farinacciella ramalhoi n. gen., n. sp., dedicado a Prof. Miguel Ramalho, director do Museu Geológico, em Lisboa.

A Cherchi, R Radoičić, R Schroeder 2016. Farinacciella ramalhoi, n. gen., n. sp., a larger foraminifer from the Kimmeridgian–lower Tithonian of the Neo-Tethyan realm. Journal of Mediterranean Earth Sciences, 2016. (http://jmes.it/index.php/jmes/article/view/84)

Farinacciella ramalhoi (Cherchi et al 2016)
Miguel Ramalho (Foto:OM)


O terceiro artigo é sobre algas jurássicas:

Granier BRC, Azerêdo AC, Ramalho MM. 2017. Taxonomic revision of Cylindroporella ? lusitanica Ramalho, 1970: In search for the origins of the Family Dasycladaceae. Island Arc. 2017;e12176. https://doi.org/10.1111/iar.12176.


Barattoloporellopsis lusitanica(after Granier et al 2001) 

sexta-feira, fevereiro 03, 2017

Bolsas FCT em Ciências da Terra (concurso de 2016)

Foram anunciados esta semana (31 de Janeiro 2017) os resultados do concurso da FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia) para Bolsas de Doutoramento e Pós-Doutoramento.
Este ano foram atribuídas 1200 bolsas, sendo 22 para o painel de Ciências da Terra: 11 de doutoramento e 11 de pós-doutoramento, o que corresponde a quase 2% das bolsas.

Houve 49 candidaturas a doutoramento e 86 a pós-doutoramento, mas muitas não são validadas Nas BPD foram validadas 56 candidaturas o que representa 19.6% das candidaturas validadas.

Bolsas de doutoramento por ano (antes da audiência prévia): 
2012: 16
2013: 5
2014: 9
2015: 8
2016: 11

Isto mostra uma política diferente com uma subida significativa no número de bolsas de Ciências da Terra. 
As bolsas pós-doutoramento foram para as seguintes instituições: 2 Univ. Lisboa, 2 Univ. Porto, Univ. Beira Interior, CERNAS, CEAM - Aveiro, IH, Cima - Algarve, FCT-Universidade Nova de Lisboa, e as de doutoramento para UL, 2 UC, 2 UP + UAv, Royal Holloway University of London
FCT-UNL, UAl e UAv.

Dois dias depois (2.2.2017) foi anunciado novo concurso para 900 bolsas de doutoramento.