sexta-feira, novembro 27, 2015

Tartarugas fósseis de Angola


O registro fóssil de tartarugas de Angola era pouco conhecido antes do trabalho de campo realizado pelo Projecto PaleoAngola, com a excepção da pleurodira Taphrosphys congolensis Dollo 1912 recolhido no Eoceno de Lândana (Cabinda).
Mais recentemente, a recolha de Angolachelys mbaxi do Turoniano de Iembe (província do Bengo), representa a primeira eucriptodira marinha de África. O holótipo é baseado em um crânio e fragmentos pós-craniano. Relatamos um novo espécime da localidade tipo com o crânio bem preservado e carapaça e membros mais completos. Os afloramentos de Bentiaba (Namibe) da Formação Mucuio (Campaniano tardio ao início do Maastrictiano) forneceram um rico conjunto de quelónios marinhos, incluindo a enorme Protostega sp. (com úmeros, costais, e plastrão; largura da carapaça estimado em cerca de 2 metros), Toxochelys sp. (periferais e costais) e Euclastes (com base no crânio, mandíbulas, membros e periferais). Os afloramentos do Oligoceno de Lândana (na província de Cabinda) forneceram recentemente um novo crânio de tartaruga criptodira quelonóide.
Reconstituição e crânio de tartaruga Euclastes do Campaniano de Angola (arte por Joana Bruno).


Este trabalho foi apresentado em congresso no SVO (Annual Meeting of the Society of Vertebrate Paleontology) em Dallas em Outubro passado.

Mateus, O., Jacobs L. L., Polcyn M. J., Myers T. S., & Schulp A. S. (2015). The fossil record of testudines from angola from the turonian to oligocene. Journal of Vertebrate Paleontology- Program and abstracts: p.177., Dallas. PDF
Poster apresentado no SVP.

quarta-feira, novembro 25, 2015

Novos governantes na área da Ciência e os sinais positivos


Portugal terá novo governo a partir de amanhã. Esperemos que haja maior apoio para a Ciência. Para já, temos dois bons sinais: 1) a pasta a "ciência e ensino superior" sobe de novo a nível de ministério (em vez de secretaria de estado no governo anterior); 2) querem continuar o excelente legado de Mariano Gago.
O novo Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior será Manuel Heitor do IST.  A nova secretária de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior é a historiadora Maria Fernanda Rollo, Professora Associada na FSCH-Universidade Nova de Lisboa. 
Votos de sucesso para os desafios que tem pela frente.

Replicamos aqui o perfil traçado pelo Jornal Público:

Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior

O ministro que quer continuar o legado de Mariano Gago

Aos 57 anos, o investigador Manuel Heitor torna-se ministro da Ciência e do Ensino Superior – pasta que conheceu bem como secretário de Estado durante seis anos, entre 2005 e 2011, período em que José Mariano Gago foi o ministro responsável por essas duas áreas nos governos socialistas de José Sócrates.
Professor catedrático, Manuel Heitor era até agora director do Centro de Estudos em Inovação, Tecnologia e Políticas de Desenvolvimento (do Instituto Superior Técnico de Lisboa, ou IST), que fundou em 1998. Foi no IST que se licenciou em engenharia mecânica, em 1981. Quatro anos depois, doutorou-se no Imperial College, em Londres, também em engenharia mecânica, a que se seguiu um pós-doutoramento na Universidade da Califórnia em San Diego, em 1986.
Depois da formação e estadia no estrangeiro, desenvolveu a sua carreira académica e de investigação no IST, na área de mecânica de fluidos e combustão experimental. A partir do início da década de 1990 dedicou-se também ao estudo de políticas de ciência, tecnologia e inovação, incluindo políticas e gestão do ensino superior.
Foi pela primeira vez para um governo com o antigo ministro Mariano Gago, como secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Mariano Gago, que morreu em Abril deste ano, já antes disso tinha sido ministro da Ciência, entre 1995 a 2002, nos governos de António Guterres, e foi quem em Portugal deu peso político à investigação científica. Para pôr a ciência na agenda política, Mariano Gago escreveu o livro Manifesto para a Ciência em Portugal, apresentado há 25 anos, em 1990, e que era um programa de governo para esta área.
É a partir deste legado que, ao longo deste ano, Manuel Heitor tem estado envolvido na organização de várias homenagens a Mariano Gago e no lançamento de um novo manifesto para a ciência como um desígnio nacional (“O conhecimento como futuro – Uma nova agenda política para a ciência, a tecnologia e o ensino superior em Portugal”), no qual se defende o aumento do dinheiro do Estado para a investigação.
“Passados 25 anos sobre o Manifesto para a Ciência em Portugal é imperativo reafirmar que a ciência é necessária, para todos; apostando nas pessoas, na sua formação exigente e motivada, prosseguindo o sucesso do desenvolvimento científico e tecnológico; urge, em suma, reclamar a ideia forte de que Portugal é país de ciência (…)”, escreveu num artigo de opinião em Maio no PÚBLICO, em co-autoria com Maria Fernanda Rollo, da Universidade Nova de Lisboa. “Investir na ciência é, como há 25 anos, investir no futuro de Portugal.”
Agora que está à frente da pasta da Ciência, Manuel Heitor vai decidir se vai desfazer muitas das políticas científicas dos últimos quatro anos do Governo Pedro Passos Coelho – a começar pela avaliação muito polémica que a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) fez aos centros de investigação do país (o programa eleitoral do PS prometia um novo processo de avaliação) e a acabar nos cortes nas bolsas de doutoramento e pós-doutoramento. Teresa Firmino
Quanto à Secretária de Estado, replicamos também o perfil traçado pelo Jornal Público:

Secretária de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior

Maria Fernanda Rollo

A historiadora Maria Fernanda Rollo, a nova secretária de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, tem um percurso académico e de investigação na área da inovação, engenharia, organização da ciência e economia do século XX português. A sua parceria em vários projectos com o novo ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, é já de longa data — por exemplo, foram dois dos responsáveis da exposição Engenho e Obra — História da Engenharia em Portugal no Século XX, no início de 2003 na Cordoaria Nacional, em Lisboa.
Começou por escolher História da Arte na licenciatura, concluída em 1987 na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL), mas o percurso de Maria Fernanda Rollo, agora com 50 anos, encaminhou-a depois para a história contemporânea. O mestrado, em 1993, foi sobre Portugal e o Plano Marshall, e o mesmo tema voltaria a ser explorado na sua tese de doutoramento, intitulada Portugal e Reconstrução Económica do Pós-Guerra – o Plano Marshall e a Economia Portuguesa dos Anos 50.
Actualmente era presidente do Instituto de História Contemporânea da FCSH-UNL, além de professora associada com agregação do Departamento de História da mesma faculdade.
Nos últimos tempos, Maria Fernanda Rollo e Manuel Heitor tinham tomado posições públicas relativas à ciência em Portugal, nomeadamente em artigos de opinião no PÚBLICO e na organização de homenagens a José Mariano Gago (1948-2015), antigo ministro da Ciência entre 1995 a 2002 e 2005 a 2011. E ainda, retomando o livro Manifesto para a Ciência em Portugal, apresentado há 25 anos por Mariano Gago, Maria Fernanda Rollo e Manuel Heitor estão entre os autores que lançaram em Junho deste ano um novo manifesto para a ciência como um desígnio nacional (O conhecimento como futuro – Uma nova agenda política para a ciência, a tecnologia e o ensino superior em Portugal). T.F.
Perfil: 
http://www.ihc.fcsh.unl.pt/pt/ihc/investigadores/item/1067-maria-fernanda-rollo
http://www.fcsh.unl.pt/faculdade/docentes/mffr
https://www.researchgate.net/profile/Maria_Fernanda_Rollo
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Elefantes fósseis de Marrocos em tese de mestrado por João Marinheiro


Elefantes fósseis Elephas recki de Marrocos foram o tema da Tese de Mestrado defendida hoje, 25 de Novembro de 2015, por João Marinheiro integrado no Mestrado em Paleontologia da FCT-Universidade Nova de Lisboa + Universidade de Évora. Parabéns ao João Marinheiro que agora é Mestre com uma classificação de 18 valores aprovada por unanimidade.

Na dissertação é mostrada a mais recente ocorrência de Elephas recki em África numa pequena bacia sedimentar do plistocénica (500.000 a 200.000 anos) no Médio Atlas, em Marrocos, associado a material lítico de H. erectus; a existência de novos fósseis de pegadas e crocodilomorfos do Jurássico médio; e uma gruta com vestígios holocénicos.


João Marinheiro na escavação de duas presas de Elephas recki, em Marrocos.

Ficha Técnica:
Data: 25 de Novembro de 2015
Mestrado em Paleontologia
Provas de Mestrado de João André da Silva Marinheiro
Dissertação: "​Proboscideans and other vertebrates from Anchrif, Morocco"
Constituição do Júri: 
Doutor Paulo Alexandre Rodrigues Roque Legoinha, Professor Auxiliar da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa
Doutora Cleia Detry Cardoso e Cunha, Investigadora Pós-doc do Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa;
Doutor Octávio João Madeira Mateus, Professor Auxiliar da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.
Orientador: Octávio Mateus (FCT-UNL); Co-orientador: Prof. Carlos Ribeiro (UÉ)


Bibliografia já publicada:
Marinheiro, J., Mateus O., Alaoui A., Amani F., Nami M., & Ribeiro C. (2014). Elephas and other vertebrate fossils near Taghrout, Morocco. Journal of Vertebrate Paleontology. Program and Abstracts, 2014,178.
Marinheiro, J, Mateus O, Alaoui A, Amani F, Nami M, Ribeiro C. 2014. New Quaternary fossil sites from the Middle Atlas of Morocco. Comunicações Geológicas. 101, Especial I:485-488.
Júri e Candidato: Paulo Legoinha, Octávio Mateus, João Marinheiro e Cleia Detry.

segunda-feira, novembro 16, 2015

Dinossauros bombons


Dinossauros e bombons de chocolate negro e menta com recheio de Aguardente DOC Lourinhã é nova saborosa combinação lançada pela empresa Doce Lourinhã (www.bombons.pt), para a qual tivémos a honra de fazer um prova antecipada e poder escolher o nome do bombom: 'mimossauro'. É mais um exemplo na "Capital dos Dinossauros" em que a sociedade acarinha o trabalho paleontológico.




Agradeçemos à Sílvia Baptista pela criação e imagens.

A Árvore da Vida antes da Origem das Espécies

Sabia que já se desenhavam árvores da vida antes da Origem das Espécies? Quem desenhou uma das primeiras e mais elaboradas árvores dos seres animais foi a canadiana Anna Maria Redfield (1800-1888) que era coleccionadora vigorosa, estudiosa da vida animal, e brilhante ilustradora, mas curiosamente tão esquecida que nem sequer tem uma entrada na wikipédia. Redfield é das primeiras mulheres a desenvolver contributos importantes na sistemática e taxonomia.
Em 1857 é publicada a sua litografia A General View of the Animal Kingdom de 1.56 x 1.56 m pelos editores E.B. & E.C. Kellogg.
O mais impressionante é que esta árvore da vida é de dois anos antes da publicação da Origem das Espécies (1859), por Charles Darwin. Aparentemente Anna Maria Redfield rejeitou a origem evolutiva dos humanos mas também é verdade que nos desenhou ao lados dos demais primatas. Os "Bimana" sendo o grupo dos humanos, distinguindo-os dos "Quadrumana", os outros primatas.

A General View of the Animal Kingdom, 1857, litografia por A.M. Redfield, publicado por E.B. & E.C. Kellogg, Hartford, CT


Existem menos de 60 exemplares conhecidos desta fantástica árvore da vida. Este original aqui apresentado está na Yale University em New Haven, EUA.

Tassy (2011) também refere várias árvores publicadas antes de Darwin, nomeadamente por Lamarck (1809) e Barbançois (1816). Contudo, árvore de Lamarck assemelhava-se mais a um auxílio visual para a chave dictómica. Os detalhes e amplitude da árvore de Redfield é rara até mesmo nos dias de hoje.
Resta-nos questionar porque é que Anna Maria Redfield é tão desconhecida. Gostaríamos de acreditar que ser mulher não era a razão de se manter relativamente ausente dos livros da História da Ciência.


Fonte: http://phylonetworks.blogspot.pt/2015_01_01_archive.html
Tassy, P. (2011). Trees before and after Darwin. Journal of Zoological Systematics and Evolutionary Research, 49(2), 89-101.

terça-feira, novembro 03, 2015

Porque é que Portugal tem tantos dinossauros e outros fósseis?

"Porque é que Portugal tem tantos dinossauros?" é uma pergunta recorrente, tendo sido abordada há poucos dias no jornal i, em colaboração com a Ciência Viva.

"Porque é que Portugal tem tantos dinossauros? A ocorrência dos numerosos fósseis de dinossauros do Jurássico, sobretudo no Oeste de Portugal, tem três razões principais: 1) naquela altura a região era uma área continental com condições de vida, com muita água doce e vegetação, onde os dinossauros nasceram, viveram e morreram; 2) numa bacia sedimentar que estava a afundar e enterrava os restos de animais com a geoquímica certa que permitia fossilizarem, e 3) essas rochas hoje afloram à superfície e estão disponíveis ao achado e recolha. Outras regiões do país não têm vestígios de dinossauros porque não reúnem uma ou mais destas três condições.