Os vírus não têm células, nem água, nem metabolismo e a maioria nem tem DNA. São organismos vivos? Esta deveria ser uma pergunta com uma resposta simples. A resposta pode ajudar-nos a compreender como a vida começou. Sabemos perfeitamente, e sem qualquer dúvida, que um elefante, uma flor ou uma pessoa são organismos vivos. São vida. Mas quanto aos vírus tudo se torna bem mais complexo.
A resposta depende da definição de Vida ou de um organismo vivo. A definição do que é VIDA é um problema é bem mais complexo do que se poderia imaginar e coloca-se por exemplo na área da astrobiologia em que é preciso saber o que é a vida para ser identificada para caso se encontre no outro planeta. Não basta ser algo que se reproduz e morre, porque isso é válido para o fogo, ou uma ideia, ou um ficheiro de computador. Para definir organismo vivo os biólogos têm-se debatido com um conjunto de condições:
- Tem homeostase, isto é necessita manter balanços de temperatura e compostos químicos dentro do seu organismo.
- Requer níveis complexos de organização molecular e celular.
- Pode reproduzir-se e multiplicar.
- Requer e utiliza energia
- Responde a estímulos externos.
- Adaptada-se ao ambiente.
- Evolui de forma darwiniana.
Contudo não existe uma definição consensual do que é a vida. Pessoalmente, eu uso a seguinte: Vida: organismo composto por moléculas complexas, e que evolui pela dinâmica darwiniana, ou seja multiplica-se, e pode sofre mutações, ser selecionado (por recursos ou outra limitação) e passar a sua informação genética.
Os vírus não têm metabolismo, não têm água, nem células, não mantém homeostase, não requerem energia, e não é claro se respondem a estímulos, mas nesta definição os vírus são indubitavelmente vida. São estruturas complexas e definitivamente conseguem replicar-se e adaptar-se ao ambiente, através de evolução.
Coronavírus (DC/ Alissa Eckert, MS; Dan Higgins, MAM, https://en.wikipedia.org/wiki/Virus#/media/File:SARS-CoV-2_without_background.png) |
Claro que os vírus não conseguem viver nem replicar sozinho e necessitam de outros organismos. Mas um parasita também necessita de um hospedeiro e ninguém contesta que se trata de um organismo vivo, mesmo que ainda não tenha condições de se reproduzir sozinho. Isso é válido para quase todos os organismos. Excepto a maioria das plantas e algumas bactérias, todos nos alimentamos de outros organismos e sem eles não sobreviveríamos. Para um parasita isso ainda é mais óbvio. Nós não precisamos de outros para a reprodução mas os outros são essenciais à nossa alimentação, logo sobrevivência. Nesse aspecto, um humano e um vírus não são diferentes.
Se os astronautas encontrassem vírus em Marte não hesitariam em afirmar que haviam encontrado vida. Diferente... mas vida ainda assim.
O Prof. Vincent Racaniello na sua aula online de virulogia na Universidade de Columbia, sugere que os vírus têm duas fases: uma inerte e outra viva.
Os vírus têm material genético próprio. Richard Dawkins sugere que o RNA é a primeira forma de vida, uma molécula auto-replicadora. Isto não significa que os vírus foram o início da vida. A verdade é que não se sabe como a vida surgiu.
Em suma, os vírus não são organismos vivos tradicionais, mas são vivos ainda assim.
Veja também: https://en.wikipedia.org/wiki/Life
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