quarta-feira, abril 22, 2015

Sobre o Planalto das Cesaredas


O Planalto das Cesaredas, também conhecido por Cezaredas, Cesareda e Cezareda, é uma área pouco conhecida. Trata-se de um maciço calcário jurássico da Região Oeste de Portugal. A topografia e geomorfologia forma um planalto, relevo de cume aplanado, em que a nivelação varia sobretudo entre os 130 e os 170 metros de altitude. A povoação de Cesaredas encontra-se a 150 m de altitude sendo o ponto mais alto o talefe das Castelhanas aos 201 metros acima do nível do mal. O Planalto tem uma área aproximada de 49 km², divididos por quatro concelhos (Lourinhã, Bombarral, Óbidos e Peniche), em que cerca de 80 %, com 40 km ², pertence ao concelho da Lourinhã.
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Planalto das Cesaredas no Google Maps.
Neste planalto predominam as formações do período Jurássico Médio e Superior (170 a 150 milhões de anos), sendo o calcário predominante, aparecendo à superfície em afloramentos extensos. Do Planalto das Cesaredas provêem abundantes fósseis de amonites, corais, bivalves e braquiópodes  e equinodermes, alguns deles sendo espécies únicas que receberam o nome de epíteto específico do planalto, como a Cyathophora cesaredensis, Stomechinus cesaredensis  Loriol, Leptophyllia cesaredensis Koby, 1905 e Terebratula cesaredensis. Restos de vertebrados como dinossauros e crocodilomorfos são raros.

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Planalto das Cesaredas em mapa topográfico das Cartas Militares de Portugal, com a indicação de isometria de 130 m (a vermelho) que delimita o planalto.
Conhecem-se cerca de 50 grutas, algares e cavidades no Planalto das Cesaredas, entre as quais Lapa da Feteira, Gruta dos Ralis, Algar da Columbeira, Lapa do Suão, Gruta dos Bolhos. Algumas destas grutas têm troglóbios.

Do planalto drena a água para quatro bacias hidrográficas: Rio Grande, Rio de Atouguia Ri Real e Ribeira de Benfeito, que fazem parte do sistema de pequenas bacias das ribeiras do Oeste litoral Português. Como maciço calcário, o planalto tem importância enquanto aquífero natural, responsável pela recarga de lençóis freáticos.
Estão identificadas mais de uma dezena de grutas no Planalto das Cesaredas como sítios arqueológicos classificados, do Paleolítico e Neolítico, como é o caso da Gruta da Feteira (estudado pelo arqueólogo João Zilhão, 1982, tendo sido uma escavação de instigou a criação do Museu da Lourinhã) ou Casa da Moura, abordada pelo pioneiro geólogo Nery Delgado em 1867.
Uma das povoações do planalto chama-se Cezaredas. Note-se que é também usada a grafia Cesaredas, Cesareda e Cezareda. O nome é tido como alusão a um acampamento das tropas de César na região (Nery Delgado, 1867). Na série “O Archeólogo Portugués” de 1920 pelo Prof. Leite de Vasconcelos escreve “na serra da Cezareda [...] em 1897 obtive em Olho Marinho alguns machados do pedra e de cobre achados perto das Cezaredas. Toda a região é rica de achados desta espécie, e de lá tenho trazido para o Museu muita cousa” (Vasconcelos, 1920: p.236). Vasconcelos, (1920: p.196) refere ainda a recolha de uma xorna de bronze e uma ponta de seta em bronze, de Moledo e Moita dos Ferreiros, respectivamente.
Na periferia do Planalto deu-se a Batalha da Roliça a 17 de Agosto de 1808, aquando das invasões napoleónicas com o confronto das forças francesas contra britânicas e portuguesas lideradas por Sir Arthur Wellesley.
De património construído destaca-se a Capela de São Domingos, no Reguengo Grande, do século. XVI. A arquitectura das casas tradicionais é de estilo rural, baixas, usando como principal material a pedra calcária que é abundante.
Combnação das carta geológica da área do Planalto das Cesaredas Fonte: Cartas Geológicas LNEG.

Actualmente, o Planalto das Cesaredas é zona de pastoreio de cabras e ovelhas, ocupação humana, agricultura, mato, e floresta. A vegetação é sobretudo rastejante, mato calcícola com giesta e carvalho cerquinho Quercus faginea e floresta (eucaliptos e pomares). Apesar de caça subsistem alguns mamíferos selvagens de médio porte como o coelho, texugo, lontra, gineta e sacarrabos.
No passado o cultivo de pomares de maça reineta era uma importante actividade económica de tal forma que era também dado a este fruto o nome "Maçã Reguengueira" por alusão à povoação de Reguengo, de onde provinham. Como actividades económica destaca-se hoje a agricultura, pastorícia, agro-florestal, pedreiras, e energia eléctrica por aerogeradoras. A aerogeradoras para produção eléctrica tornaram-se predominantes desde 2012, contabilizando-se já perto de trinta.
Vivem no planalto cerca de 7000 pessoas, em 20 povoações. Os principais aglomerados urbanos são Moledo, Reguengo Grande, Reguengo Pequeno, Olho Marinho, Feteira, Fontelas, Azambujeira dos Carros, Cesaredas, São Bartolomeu dos Galegos e Columbeira.
Como principais ameaças ambientais contam-se: 1) a proliferação da industria extractiva (o PDM do município da Lourinhã prevê 42 hectares destinados a esta actividade, mas apenas uma porção é efectiva), 2) proliferação de monocultura de eucalipto e 3) incêndios florestais (um incêndio de grandes proporções ocorreu em 2012).
Em 2015 foi criada a Associação do Amigos do Planalto das Cesaredas.
Alguma bibliografia científica:
Choffat, P. (1893). Description de la faune jurassique du Portugal: classe des Céphalopodes. Ammonites du Lusitanien de la contrée de Torres-Vedras. Première série. Imprimerie de l'Académie royale des sciences.
Delgado, J. F. N., (1867). Da existencia do homem no nosso solo em tempos mui remotos provada pelo estudo das cavernas: noticia ácerca das Grutas de Cesareda.
França, J. C., Roche, J., & Ferreira, O. V. (1961). Sur I'existence probable d'un niveau solutréen dans les couches de Ia grotte de Casa da Moura (Cesareda).Comunicaçõesdos Serviços Geológicos de Portugal, 365-370.
Klingel, M. (1991). Das Plateau von Cesaredas (Mittelportugal).-104 pp., unpublished thesis (Diplomarbeit), Institut für Geologie und Paläontologie. Univ. Stuttgart.
Lambert, J. (1913). Echinides calloviens du plateau de Cesareda (Portugal). impr. da Universidade.
Reboleira, A. S., Borges, P. A., Gonçalves, F., Serrano, A. R., & Oromí, P. (2011). The subterranean fauna of a biodiversity hotspot region-Portugal: an overview and its conservation.
Sauvage, H. E. (1898).Vertébrés fossiles du Portugal: contributions à l'étude des poissons et des reptiles du jurassique et du crétacique. Impr. de l'Académie royale des Sciences.
Vasconcelos, JL. 1920. Estudos sôbre a época do bronze em Portugal. O Archeólogo português, 24, p. 193-197, disponível aqui: http://www.patrimoniocultural.pt/static/data/publicacoes/o_arqueologo_portugues/serie_1/volume_24/193_epoca_bronze.pdf
Vasconcelos, JL. 1920. Estudos sôbre a época do bronze em Portugal. O Archeólogo português, 24, p. 215-237.http://www.patrimoniocultural.pt/static/data/publicacoes/o_arqueologo_portugues/serie_1/volume_24/215_coisas_velhas.pdf

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Como citar este texto:
Mateus, O. (2015). Sobre o Planalto das Cesaredas. Blog Lusodinos http://lusodinos.blogspot.pt/2015/04/sobre-o-planalto-das-cesaredas.html

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